
Os livros existem. Foram doados ao município ou adquiridos com dinheiro público. Mas estão abandonados em estantes ou guardados em caixas. Esse é o cenário em seis municípios do Paraná dos 50 consultados pela reportagem da Gazeta do Povo. Todos deveriam ter biblioteca pública, até porque já dispõem das obras para empréstimos. A burocracia, porém, deixa os cerca 35 mil moradores destas cidades sem acesso aos livros. Pior, as bibliotecas nesses locais já chegaram a ser abertas no passado, mas hoje estão fechadas.
A triste realidade foi constatada em três municípios da região metropolitana de Curitiba e em mais três do interior do estado. Em dois deles, Inajá e Adrianópolis, os livros estão em estantes velhas, dentro da Secretaria Municipal de Educação. Nos outros (Agudos do Sul, Bocaiuva do Sul, Iracema do Oeste e Itaúna do Sul), as obras tiveram um destino ainda pior: foram encaixotadas e não têm data para voltar às estantes e às mãos do público em geral.
O Ministério da Cultura (Minc) divulgou que, até o fim de julho, pretende zerar o número de cidades brasileiras sem bibliotecas. O problema é que, para o Minc, o Paraná já teria bibliotecas públicas em todas as cidades, situação que não se confirmou na apuração feita pela reportagem. E o quadro pode ser ainda mais grave, já que o contato da reportagem foi feito com apenas 50 dos 399 municípios do estado.
Gestão anterior
A desculpa para a inexistência de uma biblioteca acaba sendo quase sempre a mesma: o antigo prefeito fechou o local e agora o município corre atrás do prejuízo. Em Bocaiuva do Sul, a antiga biblioteca tinha até nome: Tancredo Neves. Agora os 2 mil livros aguardam a decisão da prefeitura de alugar um novo imóvel, para que possam novamente chegar às mãos dos leitores.
Em Adrianópolis, os livros comprados com dinheiro público estão sem uso, guardados em uma estante velha dentro da própria Secretaria de Educação. Os poucos mais de 200 livros de Agudos do Sul até tiveram um destino há cerca dois meses: a prefeitura divulgou, em cartazes na rodoviária, que as pessoas poderiam emprestá-los na própria Secretaria de Educação. O problema é que a demanda foi tão grande que eles não deram conta do recado. Agora não se tem notícia de quando os moradores de Agudos terão novamente acesso gratuito aos livros.
A atual administração de Iracema do Oeste não sabe explicar porque a biblioteca foi desativada nas gestões anteriores. Ela existe somente no papel. "Não sabemos porque há o registro de que o espaço existe (no Minc) se nós não o temos", diz a secretária de Educação, Rosa de Lurdes Brussolo. Segundo ela, o município recebe livros da Secretaria de Estado da Cultura (Seec), mas não tem espaço para abrigá-los. Agora Iracema está na lista da Seec para receber uma biblioteca cidadã.
Em Inajá a situação é ainda mais complicada. Há cerca de cinco anos foi construído um espaço na cidade para abrigar os livros, mas ele nunca foi usado. Transformou-se em um centro de apoio para atividades ligadas às escolas. No início do ano, o acervo de livros para a criação de uma biblioteca municipal foi dividido entre as escolas locais e uma parte ficou na Secretaria de Educação. A atual administração afirmou que dividiu os livros por falta de espaço, mas não soube explicar porque não utilizou a construção erguida há poucos anos atrás. A mesma questão se repete em Itaúna do Sul: a atual equipe de gestores públicos afirma que o problema é de administrações anteriores e, por isso, os livros também estão longe do público.



