Os moradores da Vila Três Pinheiros, localizada no Butiatuvinha, em Curitiba, não conseguem dormir quando a chuva está forte. As ruas do morro se transformam em um rio e levam tudo o que há pela frente. A casa de Nadira Aleixo Xavier, 38 anos, e José dos Santos Xavier, 55, já foi parcialmente destruída por um deslizamento de terra há quatro anos. Com medo, ela se mudou e pagou aluguel por um ano, mas a conta não se encaixava no pequeno orçamento da família de cinco pessoas. "O lote é irregular, mas eu paguei por ele. É justo ter de sair, deixar tudo para trás e começar de novo?", questiona. A cada temporal ela conta com a ajuda de vizinhos para se abrigar, já que teme pela saúde debilitada do filho mais novo.
A auxiliar de cozinha Regina Rosa da Silva, 42 anos, vive situação semelhante. Há três anos sua residência foi destruída por uma avalanche de terra. Ela ficou durante seis meses em uma casa cedida por uma vizinha, até a prefeitura resolver sua situação. Mas até hoje está lá. Nos dias em que a chuva está forte, todo o esgoto da vizinhança entra no terreno, até chegar a um córrego próximo. Ela e os sete filhos têm de fazer uma grande operação para tentar salvar os móveis. A cozinheira Erotildes de Oliveira, 36 anos, e os filhos Lucas e Mateus acordaram no domingo com a lama ameaçando entrar no quarto dos meninos. "Veio até água dos vasos sanitários. Um horror".
Almirante Tamandaré
A tarde do último domingo também foi de terror para Carlos Gomes Silva, 35 anos. A casa onde ele morava com a família no Jardim Bonfim, em Almirante Tamandaré, foi atingida por um deslizamento de terra. Quase tudo o que havia nos três cômodos foi destruído. As filhas mais velhas Cleide e Naeli brincavam no quarto e sofreram mais com a tragédia: a primeira foi retirada debaixo de uma porta e quebrou a clavícula e a segunda machucou a boca. "Foi sorte ninguém ter morrido. Graças a Deus minha mulher e as quatro filhas estão bem. Se a nós estivéssemos dormindo, estaríamos mortos", diz Silva.
A história dele é semelhante às de milhares de paranaenses que vivem em Curitiba e região metropolitana. Com apenas um salário mínimo para sustentar a família, o morro do Jardim Bonfim foi a única alternativa. Agora Silva sonha com a promessa da prefeitura em providenciar uma casa em até três semanas. Enquanto isso recebe a ajuda de parentes. Na casa vizinha, Maria Erotilde Liskoski, 58 anos, convive com o medo de morar em frente a um barranco. Com a chuva, a terra avançou e só não chegou até as paredes do quarto porque havia uma cerca de madeira. "Disseram que temos que sair daqui, mas vamos para aonde?", pergunta.



