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Camila Rehbein reclama da falta de rotas por ciclovias em São José dos Pinhais. Saída, arriscada, é disputar espaços com os automóveis. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Camila Rehbein reclama da falta de rotas por ciclovias em São José dos Pinhais. Saída, arriscada, é disputar espaços com os automóveis.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Se os ciclistas de Curitiba pedem mais rotas para o modal na capital, os que circulam nas principais cidades da Região Metropolitana sequer contam com estrutura para trafegar, e precisam disputar espaço com pedestres e veículos automotores. A Gazeta do Povo fez um levantamento com os oito maiores municípios da região e constatou que apenas quatro possuem ciclovias, mas em pequenas extensões. Duas delas não têm sequer um quilômetro e as outras duas contam com calçada compartilhada.

As oito maiores cidades da RMC - São José dos Pinhais, Colombo, Araucária, Pinhais, Campo Largo, Almirante Tamandaré, Piraquara e Fazenda Rio Grande - concentram 1,2 milhão de habitantes, segundo o IBGE, e 640 mil veículos, conforme dados do Detran-PR. Ao todo, essas cidades possuem apenas 20 quilômetros de ciclovias e outros 51 quilômetros de calçadas compartilhadas – espaços em que tanto pedestres quanto ciclistas frequentam.

Por dentro

Onde as ciclovias estão na RMC e os futuros projetos

São José dos Pinhais

Os 3,9 quilômetros estão no Parque linear do Rio Ressaca. Na cidade estão em execução 6,6 quilômetros e há projetos de 22,85 quilômetros. O Plano Diretor da cidade está sendo revisto, o que acontecerá também com o Plano de Mobilidade.

Colombo

Os 40,1 quilômetros de calçadas compartilhadas estão espalhados por diversos bairros. Cerca de 6,6 quilômetros estão em recuperação e outros 7,5 quilômetros serão implantados até o fim de 2015. A prefeitura disse que novas ciclovias devem ser implantadas, mas não disse quando isso ocorrerá.

Araucária

Dos 4,5 quilômetros, 3,5 estão na Avenida das Américas e um quilômetro no Parque Linear do Iguaçu. A prefeitura informou que ainda trabalha no Plano de Mobilidade Urbana, do qual saíram as diretrizes e novas áreas que receberão as ciclovias.

PINHAIS

Dos 10 quilômetros, quatro estão na Avenida Ayrton Senna. Os demais estão em diversas ruas da cidade, mas a prefeitura não soube informar precisamente em quais. A cidade não tem um Plano de Mobilidade Urbana, mas em 2010 foi elaborado o Plano de Circulação Viária, que contempla o tema das ciclovias.

Almirante Tamandaré

Os 18 quilômetros de calçadas compartilhadas estão nas avenidas Antonio Scucato e Francisco Krueger. A prefeitura estima mais 15 quilômetros de calçadas compartilhadas até o final do ano em diversos bairros. O Plano de Mobilidade Urbana foi finalizado e prevê ciclovias com acessos a Curitiba, construídas na faixa da linha férrea.

Fazenda Rio Grande

Os dois quilômetros estão na Avenida Nossa Senhora Aparecida. Mais um quilômetro será construído na Avenida Portugal (o que ainda depende de recursos via convênios). A administração municipal informou que o Plano Diretor está em revisão e, com isso, o Plano de Mobilidade Urbana também está em estudo.

Piraquara e Campo Largo

Não contam com ciclovias e/ou calçadas compartilhadas.

O coordenador de projetos da Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (Cicloiguaçu), Luís Patrício, critica a falta de ligações por ciclovias tanto dentro dos municípios como entre eles e dessas cidades com Curitiba. “Essas ligações não são adequadas. Como via de ligação são usadas calçadas compartilhadas. Faltam sinalizações e não há uma continuidade de uma cidade para outra”, diz. Ainda segundo ele, as ciclovias nessas cidades ainda são vistas mais com caráter de lazer do que mobilidade urbana.

Falta estrutura

Ciclistas ouvidos pela reportagem dizem que, além da falta de estrutura, há problemas com a ausência de sinalização. A jornalista Camila Rehbein mora em São José dos Pinhais e já trabalhou no município. Ela percorria uma distância de dois quilômetros, entre os bairros Aristocrata e Pedro Moro, próximos ao Centro, e não encontrava rotas por ciclovias. “Os veículos em São José não respeitam distância e dá medo quando nos deparamos com um ônibus”, ressalta. Em algumas ruas, como as calçadas são boas, Camila transitava por elas, mas “assim os motoristas respeitam menos”, critica.

Para o funcionário público do município de Pinhais, Josué Valério, o poder público da cidade peca ao investir no asfaltamento das ruas sem notar a necessidade de incluir o modal cicloviário nas vias. “As coisas devem caminhar juntas”, diz. Ele faz um trajeto de cinco quilômetros entre o bairro Jardim Amélia e o centro da cidade, boa parte por meio da Rodovia João Leopoldo Jacomel, mas não encontra ciclovias. Valério diz que a única via de Pinhais com mobilidade para bicicletas é a Avenida Ayrton Senna.

O ciclista espera, com a reforma na João Leopoldo Jacomel, estruturas mais adequadas para o modal entre Pinhais e Curitiba. A rodovia passa por duplicação e revitalização no município e em Piraquara e receberá 14 quilômetros de ciclovias. Para ele, o ideal seria a continuidade da ciclovia na Avenida Victor Ferreira do Amaral, em Curitiba.

Dificuldade também no acesso a Curitiba

Da Região Metropolitana para a capital, os ciclistas também percorrem longos trajetos, muitas vezes sem quaisquer acessos separados das vias de automóveis. Isso faz com que os ciclistas trafeguem por rodovias movimentadas, como a Rodovia da Uva e a Rodovia dos Minérios, usando acostamento ou as faixas destinadas aos veículos de quatro rodas. Somente na capital eles encontram ciclovias.

O estudante de educação física Jean Carlos Juka é morador de Almirante Tamandaré e faz faculdade em Curitiba. Quando não vai para a faculdade com o transporte público, ele utiliza a bicicleta, mas só encontra ciclovia a partir do bairro Cachoeira, em Curitiba. Ele percorre 17 quilômetros entre sua casa, no Centro de Almirante Tamandaré e a faculdade, no bairro Mercês, na capital. “Geralmente em horário de pico passo por perigos no trânsito”, diz, sobre a falta de estrutura cicloviária no município.

Do Centro de Colombo até o bairro São Lourenço, em Curitiba, o profissional de automação comercial Leonardo Alves de Carvalho percorre 16 quilômetros para ir trabalhar. Deste trajeto, em apenas um quilômetro ele encontra ciclovia e somente na capital. “Eu passo pelo acostamento da Rodovia da Uva, mas como a estrada está em obras, muitas vezes tenho que pegar a pista e disputar com os carros”, explica. Para fazer o trajeto, o ciclista anda com uma câmera no capacete para flagrar possíveis problemas que ele tenha na estrada.

A Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) informou que está em estudo um projeto para criar uma rede metropolitana de ciclovias, que deve atender os municípios para que os ciclistas tenham acesso às regiões dos terminais urbanos. A princípio, a Comec trabalha com a implantação de 85 quilômetros de ciclovias e a restauração de 35 quilômetros existentes. Também haverá ligações entre a rede metropolitana de ciclovias e a malha cicloviária da capital paranaense. Contudo, essa rede ainda passa por estudos e não há previsão para início de obras. (RB)

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