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SUS chega a pagar R$ 940 por operação de coração. Valor acaba sendo dividido por até seis profissionais | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
SUS chega a pagar R$ 940 por operação de coração. Valor acaba sendo dividido por até seis profissionais| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Dois lados da crise em Goiás e Espírito Santo

Goiás e Espírito Santo representam dois extremos da crise que envolve cirurgiões cardiovasculares no Brasil. No primeiro, as cirurgias estão suspensas há oito meses. Dos vinte cirurgiões, somente um atende urgências em Goiânia. O número de operações mensais caiu de 140 para 20. No segundo, depois de uma negociação, os profissionais tiveram aumento no repasse do governo e melhores condições de trabalho.

Há um total descaso com a saúde no município, que tem gestão plena do SUS (Sistema Único de Saúde). Ou seja, administra as verbas destinadas à saúde. É a cirurgia mais barata do Brasil – uma equipe ganha R$ 894", disse Wilson Mendonça Júnior, presidente da cooperativa de Goiás.

O secretário de saúde de Goiânia, Paulo Rassi, afirmou que não há negociação com a categoria. "Não temos recurso para fazer aporte. Se abrirmos exceção, todos os médicos vão querer complementação." Ele disse que o governo estadual não entrou na negociação – a responsabilidade por procedimentos de alta complexidade cabe ao Estado. "A saúde está acéfala em Goiás." A Secretaria de Estado de Saúde informou que a prefeitura, por ter gestão plena, deve assumir as negociações.

No Espírito Santo, as cirurgias em hospitais conveniados ao SUS foram suspensas há três anos. Depois de negociação com o Estado, a equipe de cirurgiões cardiovasculares passou a receber cerca de R$ 6, 5 mil por procedimento e retomou os atendimentos. "Não queríamos apenas a remuneração, mas condições de trabalho", disse Fabrício Gaburro Teixeira, que liderou o movimento e preside a Federação das Cooperativas de Cirurgiões Cardiovasculares.

A secretaria reorganizou o atendimento cardiológico, com um hospital de referência para cada região do estado, evitando que todos os pacientes fossem transferidos para a capital. Este ano, foi inaugurado um pronto-socorro cardiológico. "Não há passe de mágica. Houve um investimento no Estado", comentou o subsecretário interino de Saúde do Estado, Deivis Guimarães. Hoje não há fila no Espírito Santo. (AE)

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular (SBCCV) lançará uma campanha nacional para que os seus 1,2 mil associados deixem de operar pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida drástica é uma retaliação contra o preço pago para a equipe – cerca de R$ 940 para quatro cirurgiões e outros dois profissionais, no caso de uma cirurgia de ponte de safena. No Rio de Janeiro, planos de saúde pagam até R$ 13,5 mil pelo procedimento.A crise atinge alguns estados. Goiás não faz cirurgias cardíacas eletivas desde 2 de dezembro. O Ministério Público intermedia negociações entre médicos e a Secretaria de Saúde da Bahia para evitar que o serviço seja paralisado. Em São Paulo, os médicos ainda se organizam para criar uma cooperativa. O foco será a negociação com planos de saúde, que pagam cerca de R$ 1,5 mil por cirurgia para a equipe.

No Rio, os cirurgiões cardiovasculares anunciaram que vão interromper as cirurgias em outubro nos hospitais conveniados ao SUS. "O cirurgião cardiovascular hoje paga para trabalhar. Ele passa entre quatro e seis horas num centro cirúrgico, tem de ficar de sobreaviso para o caso de alguma intercorrência após a operação e, depois de 60 dias, recebe pouco mais de R$ 100 por aquele trabalho. É menos de R$ 30 por hora", afirma Ronald Souza Peixoto, presidente da cooperativa que reúne os 102 cirurgiões cardiovasculares do Rio de Janeiro.

Em 2009, esses médicos fizeram 8.303 cirurgias eletivas no estado fluminense – aquelas que não são de emergência, como troca de válvulas cardíacas. Hoje, o paciente enfrenta uma fila de até seis meses para conseguir atendimento.

A briga com os estados e municípios ocorre porque a lei prevê que as secretarias de saúde façam a complementação do que é pago pelo SUS. De acordo com a sociedade, só Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Paraíba pagam a diferença.

Segundo Gilberto Venossi Barbosa, presidente da SBCCV, a baixa remuneração tem feito com que menos médicos escolham a carreira. "O que explica que o SUS pague R$ 6 mil por um transplante hepático e a metade disso para o transplante cardíaco, que é uma cirurgia muito mais complicada?", questiona.

O secretário de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, considera a remuneração das cirurgias cardíacas compatível com os recursos do SUS. "Não há como fazer comparações com o que é pago pelos planos", disse. Ele observou que o valor per capita por cirurgia na área privada é de cerca de R$ 1,4 mil, bem mais que o per capita do sistema público, que não chega a R$ 700. "Há subfinanciamento do setor", resume. "A tabela apresenta uma remuneração compatível com os recursos existentes." Beltrame ressaltou que não recebeu reclamação formal dos cardiologistas sobre a baixa remuneração. "Estamos abertos ao diálogo."

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