• Carregando...

Um leitor achou estranha a seguinte construção de um editorial: "O governador parece ignorar todos esses fatos. Está na hora de ele tomar providências". Para ele, o correto é "está na hora dele tomar providências", pois "de ele" não parece coisa da nossa língua.

Pode não parecer, mas é. Aliás, as duas formas são.

A primeira forma (de ele) é a que procuramos seguir à risca nos jornais e também em outros textos escritos que se orientam por instrumentos normativos de recorte mais conservador. A explicação é a seguinte: o pronome "ele" é o sujeito da oração infinitiva "tomar providências"; por isso, a preposição "de" (dele) fica separada. Se trocarmos o pronome por um nome próprio, talvez fique mais clara a orientação: "Está na hora de Júlia tomar providências".

Ora, quando pomos essa analogia em movimento, chegamos a muitas outras construções que podem chocar os leitores. Por exemplo: "O fato de eles terem sido ótimos alunos conta muito nesse momento". Agora, trocamos "eles" por Maria e Pedro: "O fato de Maria e Pedro terem sido ótimos alunos conta muito nesse momento". O mesmo raciocínio vale para construções do tipo "de o", "de esse", "de aquele" etc. Um exemplo: "Cheguei antes de o banco abrir".

É importante notar que sempre há a presença de uma forma infinitiva na oração: abrir, tomar, terem. Por isso, não é correto escrever: "Apesar de as chuvas dos últimos três dias, a safra está comprometida".

Contudo, não poucos gramáticos (Bechara e Cegalla, por exemplo) abonam a forma que o leitor considera ser a única correta. Com a diferença, frise-se, de que, evidentemente, não desaprovam a outra (de ele). Definitivamente fixadas na fala dos brasileiros de todos os níveis de escolaridade, construções do tipo "Está na hora da onça beber água" e "Maria vibrou muito antes do show começar" insinuam-se com força em bons textos escritos.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]