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Deu-se em uma conversa da qual participei apenas com os ouvidos – estava próximo e, mesmo não intencionalmente, acabei ouvindo a queixa de uma estudante, segundo a qual seu professor de português gosta de falar "tudo certinho" e fica corrigindo os alunos.

É bem provável que sua bronca tenha a ver apenas com o fato de o professor ficar corrigindo a turma. Dependendo da forma como nos dirigimos aos nossos alunos, criamos adversários em sala de aula, quando o propósito não é outro senão o de ensinar, de criar condições eficazes para o aprendizado deles. Dado o propósito desta coluna, deixo essa questão de lado e passo a falar sobre o "falar certinho" do meu colega.

Ora, para ficar no truísmo dos truísmos, todos sabemos que a maioria dos nossos estudantes de escolas públicas chega à escola falando uma variedade de língua não prestigiada socialmente. Não se trata de não saber falar ou falar uma língua pobre, um arremedo do português. Claro que não. Mas o fato é que temos a obrigação de oferecer aos nossos alunos uma variedade de língua diferente da que eles já sabem desde pequeninhos, com a qual foram e continuam sendo capazes de se comunicar, de viver e se relacionar. Ocorre que determinadas marcas dessa língua não são aceitas nas mais variadas situações. E um dos papéis da escola, pontualmente dos professores de língua materna, é justamente criar condições para que os estudantes aprendam a se comunicar em diversos contextos – e muitos deles exigem que se "fale certinho" mesmo. Uma construção do tipo "pediu pra mim fazer" ou "nós não foi" pode ser um desastre.

Uma vez que aprendemos muito com exemplos, professores que "falam certinho" devem ser a regra e não exceção na escola. Os estudantes precisam aprender as variedades socialmente valorizadas, e os professores que "falam certinho", a buscar uma maneira eficaz para que isso se concretize.

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