Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Adilson Alves

Existir ou não existir? Eis a questão!

Consultando o Manual de Redação e Estilo do jornal O Estado de S. Paulo (p.131), um leitor se deu com a afirmação de que a locução "frente a" não existe em nossa língua. Isso o deixou desorientado, porque mais de uma vez recorreu a ela em seus textos escritos. E pergunta: a locução "frente a" existe ou não existe?

De minha parte, confesso ser testemunha ocular de sua existência. Nos últimos anos eu a vi espraiada nos mais diversos tipos de textos: reportagens, relatórios, artigos científicos, etc. Creio que muitos leitores também a tenham visto.

De fato, o referido manual afirma categoricamente que se trata de uma locução "inexistente em português" (3.ª edição, 1997, p. 131). Mas, convenhamos: o próprio fato de se afirmar que tal locução inexiste em português já levanta suspeita de que, se não existe, pelo menos dá trabalho. O que acontece, e isso me parece bem relevante, é que nem todas as construções de uma língua são aceitas como adequadas a determinados padrões de texto. Muitas vezes porque são usadas excessivamente. Talvez seja o caso do "frente a", que aparece em diversos contextos para os quais já há outras locuções legitimadas. Na maioria das vezes, porém, porque os responsáveis pela elaboração de materiais normativos não gostam e pronto. As razões são bem variadas e quase sempre envolvidas pela questão do gosto.

Quando optamos por escrever conforme as orientações de um determinado material – e admito que sigo muitas das indicações do manual do Estado, incluindo a "inexistência" do "frente a" -, estamos jogando conforme as regras aceitas por um determinado universo de interlocutores. Esse auditório é de extrema importância para nossas escolhas e nossas exclusões. Por causa dele, demitimos algumas variedades de nossa língua. O "frente a" foi demitido. Mas existe.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.