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Quis o espírito das férias, ou o frio curitibano, ou a saudade dos amigos, que eu decidisse fazer uma feijoada, que é um dos pratos que venho treinando no meu sempre incompleto curso de autoajuda culinária, parte do exercício de readaptação pessoal à condição oficial de "idoso". Pois descobri há pouco que já posso tirar uma carteirinha de idoso, o que me dará muitas vantagens – nas filas do banco e do supermercado, nos guichês da inesgotável burocracia brasileira e na luta por uma vaga de estacionamento. Bem, vantagens práticas e uma certa cara de pau. Ora, se um, digamos, "jovem animado" como eu lá vou exigir direitos de idade?! Melhor esperar discreto na outra fila, a das cestinhas sem fim só com dois caixas adiante, ou a dos motoboys com 200 contas para pagar, ou a do guichê com senha 137 na mão. E, para descansar, em vez de dar carteirada de idoso, prefiro estudar a feijoada, que é atividade boa para a saúde, não estressante, desde que não se exagere no bacon e na cerveja.

Pois bem, data acertada, convites feitos, compras no Mercado Municipal, a costelinha defumada, os pés cortados em quatro naquela serra, o paio, o charque, o rabo e a língua de porco, a calabresa, o alho, as folhas de louro, humm, tudo que parece selvagem e depois fica maravilhoso, fui atrás de uma boa panela aqui em casa, capaz de dar conta dos dois quilos de feijão-manteiga, do novo, mais os ingredientes – vai caber? Duas opções: uma panela de maior diâmetro com pouca altura, ou outra de menor diâmetro com mais altura. Qual tem mais volume?

A solução óbvia, instintiva, sem matemática nenhuma, seria encher de água uma delas e transferir o líquido para a outra e ver qual delas, afinal, iria para o fogão. Mas alguma coisa ecológica na minha cabeça bateu fundo – para que esse desperdício de água? O mundo nessa crise e eu jogando água e conversa fora só para medir panela?! E seria uma solução tecnicamente deselegante, uma coisa primária, pré-histórica. Use a cabeça, estimule a memória, lembre daquela aula em que você suava frio, a fórmula de calcular o volume do cilindro! Pensei, penei, usei a trena – será diâmetro vezes altura mais a raiz quadrada de pi? Não dava certo.

Tive de apelar à internet, que, como todo mundo sabe, tem mais memória que Funes, o memorioso de Borges. O que me deixou realmente feliz foi descobrir que centenas, quem sabe milhares de pessoas tinham a mesma dúvida! Elementar, meu caro: o volume do cilindro é pi (que em outra consulta relembrei ser 3,1416...) vezes o raio ao quadrado, vezes h (que é a altura). Isso posto, descobri, feliz, que uma panela tinha 11,639 litros e a outra, 11,322 litros.

A feijoada? Acho que ficou boa – não reclamaram. Mas eu fiquei intrigado: o ideal para uma panela de 11,639 litros seria algo entre 1,5 e 1,8 quilo de feijão. O que vai exigir outra pesquisa. Ou uma carteirinha de idoso.

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