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 | Gilberto Yamamoto
| Foto: Gilberto Yamamoto

Se a última impressão é a que fica, 2011 não vai deixar saudades, tomando simbolicamente o futebol como um jogo da vida. Meu Atlético caiu para a série B; só um tropeço, no mundo volátil do esporte – e que seja de rápida e fulminante recuperação. Talvez seja até bom, para dar algum prumo ao time. Confira-se o exemplo do Coritiba. Mas vendo o jogo do Santos contra o Barcelona pelo mundial de clubes – aquela derrota acachapante e assustadora –, vivi a sensação de que o futebol inteiro do Brasil está na série B, mas imagina-se na elite, o que é outro símbolo para o país das chuteiras e da Copa do Mundo. Tudo bem, deixemos o futebol momentaneamente de lado, que fim de ano é página virando-se.

De política, acompanhei pouco, embrenhado na minha vida de caixeiro-viajante, e como a presidente é discreta, pouco ouvi falar do que acontece além das manchetes obrigatórias de jornal. Apenas uma boa novidade por mês: a queda de ministros, um enrolando-se atrás do outro, quase todos consultores de cachê alto, e (tudo indica) políticos de má sorte. O Brasil é um país tão ao avesso que aqui festejamos ministros que caem; os que tomam posse criam uma aflição silenciosa, na roleta de Brasília: o que vem agora? De uma maravilhosa biografia de Schopenhauer (Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia, de Rudiger Safranski, Geração Editorial), retiro a citação do poeta alemão Hölderlin: o inferno do Estado é que sempre há alguém querendo torná-lo um paraíso. A frase define o horror das distopias do século 20, que ainda sopram. No Brasil, faz tempo que o paraíso vem sempre em causa própria.

E a coisa funciona: um ministro do Supremo declarou antecipadamente que os crimes do mensalão, com o processo em andamento, irão todos prescrever, o que talvez seja um método não ortodoxo de limpar a mesa do Poder Judiciário, que fala como gralha e age como tartaruga. Os processos já entrariam todos com prazo de validade no rótulo, uma racionalização fantástica do sistema. É interessante como a cultura do Facebook parece ter contaminado até o Judiciário. Mesmo no mundo severo das togas, criou-se um horror ao silêncio, embora o vácuo permaneça.

Na economia, este leigo festeja apenas que a inflação continua sob controle, apesar de um ou outro susto; só quem viveu os desvairados anos 80 e 90 sabe que ela, à solta, é capaz de destruir a produção e corromper tudo que toca.

Entre perdas e danos, sobrevivemos. O cronista diria que foi um ano produtivo, ao descobrir que é ótimo escrever ao raiar da manhã. Diz o povo que Deus ajuda quem cedo madruga. Cético de carteirinha, estou testando o ditado. E quem sabe em 2012 consiga enfim viver um ano sabático, de vagabundagem mesmo, um dolce far niente, com que venho sonhando há décadas. Não vai dar certo, eu sei, mas sem sonhos, que graça temos?

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