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 | Gilberto Yamamoto
| Foto: Gilberto Yamamoto

Passei um bom tempo desta temporada anunciando aos amigos a crônica feliz que eu escreveria neste final de ano. Não quando o Atlético ganhasse o campeonato ou disputasse a Libertadores, porque sou fanático, mas não sou maluco, vendo o que eu estava vendo; eu ia apenas descrever como o Atlético, heroicamente, como um titã dos gramados, escaparia do buraco da série B, saindo do poço com a força dos ombros. O futebol tem desses mistérios: festejamos qualquer coisa, até a mera fuga da degola. Pois nem isso foi possível. Não consigo lembrar de nenhum outro ano em que o time fosse tão teimosamente mal, semana a semana, jogo a jogo, sempre com a água no pescoço. Cada furada, cada gol perdido e cada gol levado era um desafio torturante à fidelidade do torcedor. E não esmorecemos, rubro-negros até a morte. O incrível é que no ano passado havíamos chegado em quinto lugar. E em poucos meses o time desabou. Em 2011 saiu do buraco por um único dia, respirou um pouco, e voltou a afundar.

Sabemos que é inútil fazer profecias retrospectivas, que costumam ser uma especialidade da crônica esportiva, dando-lhe o sabor do controle do passado sobre o presente. Mas torcer é assim: escalar o extraordinário "Se", que não joga mas está sempre presente em campo, como um fantasma da incompetência. E o engraçado é que cada um tem um "Se" de sua preferência. O meu Se teria entrado no começo da temporada, nas primeiras dez rodadas, quando disputamos 30 pontos e fizemos dois. Se tivéssemos ganho uma única partida daquelas oito que perdemos, hoje estaríamos festejando a permanência. Não é pedir muito: uma vitória em oito jogos. Mas o Se não entrou em campo. Não foi nem escalado.

Este é o Se estatístico, o que faz contas mordendo o lápis. Já um amigo meu gosta de personalizar o Se, eleger alguém como Judas. "Se Fulano conseguisse driblar uma cadeira", "Se Sicrano olhasse para o lado antes de mandar para a arquibancada", "Se o idiota do técnico – qualquer um do estoque do ano – tivesse trocado Seis por Meia Dúzia", e assim por diante. E há o Se alheio, o da teoria conspiratória universal, que baixa a voz para revelar: "Se o juiz não nos roubasse naquele gol do Paulo Baier", ou "Se o Atlético Mineiro não tivesse entregado o jogo tão vergonhosamente ao Cruzei­­­ro"... Já disseram que os mineiros só são solidários no câncer, na célebre frase atribuída a Otto Lara Resende; mas parece que também se abraçam no futebol. Todos os Ses são escalados em campo para tapar o óbvio de sempre: caímos com as próprias pernas. Tudo bem: os coxas perderam a Libertadores e depois do clássico ninguém quebrou nada na cidade, o que é um sopro saudável de civilização.

Mas vamos em frente que o mundo dá voltas: uma série B arrasadora e um retorno espetacular em 2013, quando, é claro, seremos campeões. Para o coração rubro-negro, não é pedir muito.

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