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Na manhã de 28 de fevereiro de 2007, a atriz Lala Schneider foi chamada para o elenco do Grande Teatro Celestial. Deixou-nos com belos 80 anos, dormindo feito passarinho, numa fase da vida em que fazia também o papel de matriarca da nova geração de atores, atrizes e diretores. Para a dama do teatro paranaense, prêmios, aplausos e inesquecíveis personagens nunca faltaram; inclusive grandes papéis na vida real.

Fora do palco, uma das grandes interpretações de Lala Schneider ocorreu na esquina do Teatro Guaíra com a Rua XV de Novembro. Era fevereiro de 1980, véspera de estreia da peça Drácula, no Auditório Salvador de Ferrante. Lala Schneider interpretava Edvirge, a governanta. Ariel Coelho, que fora do palco já era o próprio, fazia o papel de Conde Drácula. Luís Melo apavorava como Dr. Frankenstein. Emílio Pitta era o cocheiro; Odelair Rodrigues, a cozinheira; Sansores França, o mordomo. Ivone Hoffmann, a copeira Aurora; Gina Pigozzi, a arrumadeira Sybill: duas gracinhas com dois pescoços que fariam a felicidade de qualquer vampiro de Curitiba. Cenários de Fernando Marés e Paulo Maia, figurinos de Luiz Afonso Burigo. Antônio Carlos Kraide assinava a direção e Beto Bruel, a iluminação.

Lala Schneider tinha, então, um Volkswagen TL verde. Naquela noite de ensaio geral de figurinos e maquiagens, a grande dama estacionou o TL na esquina do Teatro Guaíra e foi para os camarins, já preparada para a jornada noite adentro.

Era bem madrugada quando o guardião do Teatro Guaíra interrompeu o beijo do Drácula aos gritos: "Lala, corre que um Fusca desgovernado destruiu o teu carro!" Foi uma correria. Solidários, todos do elenco dispararam do palco em direção à esquina do teatro: a governanta Edvirge à frente, o Conde Drácula atrás e o terrível Dr. Frankenstein seguido pelo tétrico mordomo. Fazendo fileira, esbaforidas, a copeira, a cozinheira e a arrumadeira. Emílio Pitta, o corcunda que babava pelo canto da boca, foi o último a chegar junto ao Fusca afundado na lateral do TL verde de Lala Schneider.

Foi uma coisa medonha. A arrumadeira Edvirge, com as mãos na cabeça, não acreditava no que estava vendo. Muito menos o motorista, cercado pelo Conde Drácula, o Dr. Frankenstein, um mordomo assassino, três domésticas histéricas e aquele baixinho corcunda que lhe pedia os documentos. Completamente aterrorizado, o motorista se escafedeu em direção ao Passeio Público e nunca mais foi visto. O Fusca foi recolhido ao Detran.

O TL verde de Lala Schneider virou personagem de uma das mais inesquecíveis cenas do teatro paranaense. Com o teatro indo às ruas, hoje aquela trombada teria espaço no Festival de Teatro de Curitiba.

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