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A propaganda decretou que as meninas nunca esquecem o primeiro sutiã. E os meninos nunca esquecem o vislumbre daquele misterioso tecido, a primeira namorada e o primeiro beijo. Bem mais que o primeiro sutiã, o primeiro amor é o que primeiro acende na memória das meninas. O primeiro beijo também, pois ele pode ter sido no escurinho do cinema. Aos meninos do século passado, a primeira matinê, de mãos dadas com a primeira namorada, faz lembrar o primeiro baile de rosto colado, o uísque com guaraná e o band-aid no calcanhar.

Coisa boa sempre tem sua primeira vez para se guardar. Coisa boa foi o primeiro passeio de bicicleta, o primeiro banho de rio, a primeira jabuticaba na jabuticabeira. A primeira bola, a primeira chuteira, a primeira camisa de futebol, o primeiro gol. O primeiro livro de Monteiro Lobato, a primeira escola, a primeira professora, o primeiro boletim, o primeiro puxão de orelha, o perfume do primeiro lanche na lancheira. O bolo recém-assado, a roupa da cama cheirando limpeza. Coisa boa a primeira fatia de pizza, o primeiro frapê. O primeiro liquidificador de casa, a primeira geladeira, o primeiro picolé de leite no congelador. Menino do interior, o primeiro gibi, a primeira escada rolante na cidade grande.

O primeiro carro, o primeiro Fusca, a caminho da praia pela primeira vez. Privilegiados foram os que nasceram longe do oceano, os do litoral não viram o mar pela primeira vez. O primeiro radinho de pilha, a última canção do Roberto, o primeiro disco dos Beatles. A primeira carteira de trabalho e o primeiro emprego. A primeira eleição e o primeiro voto. Quem há de esquecer o primeiro voto para presidente? O primeiro voto contra a ditadura ninguém esquece. Meu primeiro voto foi em Curitiba. Coisa boa foi ver os pedestres ocupando a Rua das Flores, enquanto o velho MDB ocupava a 145.ª Zona Eleitoral: Maurício Fruet para deputado estadual, Alencar Furtado para deputado federal, Leite Chaves para senador. Na Rádio Iguaçu era calmo o início da madrugada. Na Rádio Ouro Verde, saudade não tinha idade.

Voto útil, coisa boa era votar contra a ditadura, abrir o jornal no qual o presidente do maior partido do Ocidente, Francelino Pereira, reconhecia que a Arena passava a ser um "partido dos grotões". A lavada do MDB, aquele, sim, velho de guerra, lavou pela primeira vez o coração do estudante naqueles embalos do século passado.

Melancólico esse pedacinho de novo século. Além de obrigatório, agora as meninas e os meninos votam por obrigação. "Lembra do teu primeiro voto?" "Mais ou menos!" "E o que isso te deixou na lembrança?" "A primeira vez que comi chuchu!"

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