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De tantos assaltos em seus estabelecimentos comerciais, de tanto tiroteio na vizinhança, de tantos assassinatos no bairro, o camarada vendeu tudo o que tinha em Curitiba e foi passar um ano de férias forçadas na Ilha do Mel. Motivos o infeliz tinha: proprietário de dois postos e quatro mercadinhos na região metropolitana, o camarada estava completamente abatido e sem perspectivas, tantos foram os assaltos que os seus negócios sofreram nos últimos anos. Entre mortos e feridos, enfim, tudo levou o camarada a chutar o pau da barraca, vender o patrimônio e, com o dinheiro amealhado, se refugiar na Ilha do Mel.

Ao amanhecer o ano na Praia das Encantadas, o camarada tropeçou numa velha lâmpada. Esfregou-a. Um gênio saltou lá de dentro, como sempre: "Você libertou-me da lâmpada. Agora esqueça aquela história dos três desejos. Você tem direito a um desejo apenas. Diga o que quer!"

O homem pensou, pensou e respondeu: "Esse meu retiro aqui na Ilha do Mel está sendo uma maravilha. Apesar da pouca infraestrutura, do lixo que os turistas largam nas praias, da quase insalubridade da água, do saneamento precário e outras mazelas, minha vida está sendo bem mais segura e agradável do que antes. Apesar dos pesares, só não suporto mesmo é navegar até Paranaguá para falar com o gerente do banco. Tenho medo do mar e costumo ficar enjoado na travessia. O meu grande desejo seria uma ponte que ligasse a Ilha do Mel ao continente, para atravessar a Baía de Paranaguá de carro".

O Gênio riu: "Uma ponte para a Ilha do Mel? Impossível! Pense na viabilidade. Mesmo com o Canal da Galheta assim tão rasinho, pense nas vigas de sustentação, quanto concreto armado, quanto aço, quanta mão de obra e, o mais impossível: nunca os ecologistas iriam permitir fazer uma ponte de tal natureza. Só para realizar o estudo de impacto ambiental seria o custo de uma guerra civil. O governo não tem verba nem para construir uma pinguela em Matinhos, imagine uma ponte desse tamanho. E vamos que construísse: dias depois a Polícia Federal iria botar na cadeia os empreiteiros da obra. Não, a ponte é inexequível! O projeto não é factível, como dizem os políticos.

O camarada compreendeu, tentou outra opção: "Então meu desejo é voltar para Curitiba, retomar os meus antigos negócios. Com uma condição: desejo trabalhar em paz, dormir à noite, sem o pesadelo de me ver assaltado diariamente". O Gênio voltou a rir: "Não me venha com pedidos impossíveis! Pense em algo bem difícil! Por exemplo, o teto retrátil da Arena da Baixada funcionando perfeitamente. Ou quem sabe a licitação do metrô?"

O camarada pensou mais um pouco, até chegar a um desejo que lhe pareceu possível: "Desejo pagar um preço justo pelo pedágio!"

Em vista do pedido, o gênio se rendeu: "Desejas uma ponte para a Ilha do Mel com duas ou quatro pistas?"

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