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André Gonçalves, o atento observador da Gazeta do Povo em Brasília, nos explicou em sua coluna por que a Copa do Mundo queimou o filme de Curitiba: "Há certos aspectos intangíveis que definem a imagem que as pessoas constroem de uma cidade. Paris é romântica, Londres é descolada, Rio é praia, Salvador é festa e São Paulo é trabalho. Curitiba? Curitiba é certinha. Não dá para explicar direito o que leva a essas percepções, nem atestar que elas são 100% verossímeis. É um mito que gravita em torno de cada lugar, construído muito mais pelos olhos de quem vê de fora".

A credibilidade de Curitiba como uma cidade onde as coisas acontecem – dentro da mística imigrante pelo trabalho, como apregoava Paulo Leminski – vem de longe. Principalmente dos 20 anos que transformaram Curitiba – de 1970 a 1990 –, quando as inovações urbanas eram feitas a toque de caixa. Do dia pra noite.

O maior exemplo foi a Rua das Flores. Em março de 1971, ao assumir a prefeitura, o primeiro ato do jovem arquiteto Jaime Lerner foi tomar um cafezinho na Boca Maldita, onde falou para todo mundo ouvir: "Vamos fazer!"

Só não disse o que iria fazer. Logo em seguida a Rua das Flores nasceu a fórceps. Foi feita na marra e com garra. Como prefeito indicado por dois governadores da ditadura, Jaime Lerner dormia com a cabeça na guilhotina. E a equipe do Ippuc atuava como se todo dia fosse o dia do Juízo Final. Dormiam com uma ideia na cabeça e acordavam com um capacete de obras, porque aquele poderia ser o último dia de trabalho para realizar o que haviam sonhado. Na calada da noite, o primeiro calçadão de pedestres do Brasil foi executado numa operação de guerra, num fim de semana, para não dar chance aos comerciantes de impetrar mandados de segurança impedindo as obras. E assim sucessivamente, saíram do papel o Parque Barigui, o Parque São Lourenço, o da Barreirinha, o Sistema Trinário, os ônibus expresso e ligeirinho, as estações-tubo e outras obras-relâmpago que fizeram de Curitiba uma referência em planejamento urbano.

O mesmo aconteceu com o Museu Oscar Niemeyer. O Museu do Olho foi construído em sete meses, período em que o desenrolar da obra foi acompanhado por Niemeyer no Rio de Janeiro, em tempo real, graças a um sistema de teleconferência.

Verão de 2002, Avenida Atlântica, Copacabana, Rio de Janeiro. Quando Jaime Lerner deixava o escritório de Niemeyer na cobertura do Edifício Ypiranga, com o projeto do museu debaixo do braço, Niemeyer se despediu: "Construam antes que eu morra!"

Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares, carioca de 15 de dezembro de 1907, inaugurou a obra poucos dias antes de completar 95 anos.

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