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Nos jornais de antigamente (hoje chamados genericamente de mídia pelos idiotas da objetividade) não existiam hospitais. Existiam nosocômios. Ou hospícios, caso a vítima fosse doente da cabeça.

Por constarem da pauta do dia, os nosocômios viraram assunto preferencial nas mesas de boteco. Local, aliás, bem próximo de um hospício. Entre um e outro depoimento acerca do tratamento recebido em certos nosocômios, o veterano advogado nos contava o caso do pelo encravado que, do dia pra noite, lhe irrompeu no peito.

"Inflamação de um pelo encravado", explicou ele à atendente do plano de saúde, pelo telefone! A voz lhe respondeu: "5 da tarde o doutor vai lhe atender".

Eram 5 em ponto da tarde quando o atarefado causídico foi encaminhado ao dermatologista: "Foi assim, de repente, acordei com esse avermelhado. Já tive no queixo e no pescoço, nunca no meio do peito". O médico o examinou com um canto do olho: "Infelizmente não vou poder atender o senhor aqui. Vou marcar para amanhã à tarde, no hospital". Para um advogado, o horário do fórum é sagrado: "Amanhã à tarde, doutor? Não tem outra horinha?" "É o único horário disponível." O especialista virou as costas, não sem antes levantar o indicador: "Chegue uma hora antes".

No dia seguinte, o pelo encravado chegou ao nosocômio com uma hora de antecedência: "Tenho consulta marcada com o dermatologista...". A enfermeira abriu a agenda: "Pseudofoliculite. Reação inflamatória. Apartamento 313. Está acompanhado?" "Apartamento com acompanhante? Meu pelo encravado não merece tanto!" "A diária do apartamento já está incluída. Por favor, me acompanhe: é preciso que o senhor tire toda a sua roupa para entrar no centro cirúrgico".

Sempre com o latim na ponta da língua, o advogado ficou estarrecido: "Data venia, mas não vou para o centro cirúrgico. Muito menos vou tirar toda a roupa. Eu vim a este nosocômio para tratar de um pelo encravado no peito e não fazer uma cirurgia no coração".

Com a ficha do plano de saúde na mão, a enfermeira se fez de impaciente: "É o procedimento de rotina. Para evitar contaminação hospitalar, o senhor tira toda a roupa, inclusive meias e sapatos, veste um pijama e vai para o centro cirúrgico, onde o doutor já está lhe esperando!" Segurando o queixo com a mão para não cair, o ilustre causídico ainda perguntou: "O plano de saúde paga uma bela acompanhante para o apartamento? E o padre para a extrema unção, também está incluído na conta?"

E saiu misturando versos da música popular: "Se é por falta de adeus... vou pra não voltar!"

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