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O fazendeiro de Pato Branco se aposentou e foi morar na praia. Só levou a cuia de chimarrão e a bandeira do Grêmio. Mês a mês, mandava notícias para o filho que ficou administrando os negócios.

Janeiro: "Estamos hospedados num hotel cinco estrelas, enquanto procuramos um cantinho para morar. Não temos pressa, a moça do tempo diz que vem aí uma frente fria."

Fevereiro: "Fechei negócio: apartamento de frente para o mar. Três suítes com deslumbrantes sacadas. A vista da praia é pornográfica. Tua mãe achou a cozinha acanhada."

Março: "Era tudo o que sonhávamos. Até fizemos uma agenda para o dia-a-dia. 8 horas: café da manhã; 9h30: caminhada na praia; 12 horas: peixe fresco; 14h30: soneca; 16 horas: compras; 18 horas: caminhada; 19h30: novela. 20h30: Jornal Nacional. 21 horas: novela. 23 horas: caminha.

Abril: "Me enturmei para o aperitivo diário no barzinho dos aposentados. Sabe a deslumbrante sacada? Mandamos envidraçar. Tua mãe não gostou, é muito vidro para lavar."

Maio: "No meio da tarde, jogo bocha e depois estico com a turma para um churrasco. Tua mãe não gostou muito da ideia."

Junho: "Comprei um barco pra pescar, mas o tempo não ajuda. Tua mãe inventou de pintar estátuas de gesso para vender na feirinha. Acha que precisamos achar algo pra fazer."

Julho: "O vento é de lascar, ainda não consegui botar o barco na água. Deixamos de andar na praia, a maresia enferruja os ossos, de tanto frio. O médico mandou parar com os aperitivos. Tua mãe também, acha que estou muito barrigudo."

Agosto: "Fui eleito síndico por unanimidade! Amanhã temos uma reunião de condomínio para tomar algumas medidas para o verão: falta de água e a eterna barulheira. Vamos envidraçar todas as sacadas do prédio. O vento é de matar!"

Setembro: "O feriadão foi um inferno. Invadiram nossa praia com toneladas de som e cerveja. Só conseguimos dormir depois das cinco da manhã. Tua mãe está nervosa, eu não estou com bons pressentimentos."

Outubro: "Vendi o barco que nunca usei. Chove a cântaros, mas o movimento começou a subir e os preços também. Tua mãe não se conforma com a minha barriga e agora ameaça não sair mais de casa comigo."

Novembro: "Não sei o que está acontecendo. Os amigos do barzinho dos aposentados já botaram o apartamento pra alugar e quase todos estão indo embora. Só a frente fria é que não vai."

Dezembro: "Tua mãe venceu! Vamos voltar para Pato Branco. Reassumo os negócios em janeiro. Se quiser, o apartamento é teu. Beijo da mãe, bênção do pai. Fui!"

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