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Quase todo mundo provavelmente alguma vez na vida já pensou em alertar colegas ou conhecidos sobre algo que eles efetivamente estavam fazendo ou planejando fazer de forma errada ou inconveniente. Mas nem sempre nós os alertamos. Às vezes, é por comodismo, conformismo. Em outras ocasiões, para não parecer chato e, assim, evitar uma possível briga com nossos amigos ou parentes.

Na vida pública, esse comportamento ajuda a perpetuar nossos grandes erros como nação. Os políticos mandam e desmandam no país. A corrupção corre solta. As autoridades abusam de seu poder. Todos sabemos que tudo isso é errado. Conversamos nos bares e nas rodas de amigos e ficamos indignados, entre uma cerveja e outra. Mas quem, no final das contas, dá a cara para bater? Ou seja, quem aparece em público para enfrentar os desmandos?

É nessa hora que surge a conversa de que as coisas sempre foram assim e não vão mudar. De que é melhor guardar distância da política. De que mexer com autoridade é perigoso. Outros até teriam coragem de ir adiante. Mas desistem diante da constatação de que, sozinhos, os simples cidadãos não têm força para mudar tudo o que está aí.

Mas é justamente nessa hora que nós nos enganamos. O cientista político Cass R. Sustein, professor de Direito da Universidade de Chicago (EUA), um estudioso da psicologia aplicada à política, afirma que uma única manifestação individual pode sim gerar uma mobilização capaz de quebrar um círculo vicioso.

Sustein cita a fábula das roupas do rei como arquétipo dessa possibilidade de mudança a partir de um ato isolado. Na história, o soberano autoengana-se de estar usando uma luxuosa vestimenta quando na verdade está nu. Nenhum súdito ousa dizer a verdade para não desgostá-lo. É uma criança, em sua inocência, quem grita a verdade quando sua majestade passa na rua. E, aí, o rei cai em si e fica envergonhado.

O Paraná tem vivido, no último mês, um exemplo de como vozes sensatas, ainda que isoladas, podem mudar o que está errado. O trágico acidente de carro que matou os jovens Gilmar Yared e Carlos Murilo de Almeida poderia já ter sido esquecido, como tantos outros desastres que ocorrem nas ruas e nas estradas.

Mas a tenacidade da família Yared em busca de justiça mostrou que nem mesmo uma autoridade pode se esconder quando a verdade vem a público. O ex-parlamentar Fernando Ribas Carli Filho, que dirigia embriagado e com a carteira suspensa por uma série de infrações de trânsito, num claro desrespeito de um homem público à lei, não resistiu à pressão popular desencadeada pelas manifestações dos pais de Gilmar. Ele teve de renunciar. Foi a primeira renúncia de um deputado estadual na história do Paraná. Não é pouca coisa.

Fernando Martins é jornalista.

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