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Dizem que a história é cíclica. A atual crise econômica parece confirmar a afirmação. As voltas que o mundo dá levaram a Europa a reencontrar o fantasma do nacionalismo e do radicalismo político que parecia exorcizado. E é prudente ficar de olho: o rumo que o Velho Continente tomar pode influenciar o planeta.

A crise do euro não é apenas financeira. É também política. A moeda comum, criada em 1992, é ponto central do projeto de construção de uma Europa amarrada por laços econômicos, cujo objetivo primeiro tem sido evitar as condições que levem a um conflito bélico de grandes proporções.

O euro nada mais é que o marco alemão europeizado. A Alemanha – reunificada em 1990 e, portanto, mais forte – aceitou ceder parte da sua autonomia econômica ao aceitar uma moeda comum. Tudo para conter o ímpeto nacionalista germânico de comandar num primeiro momento a economia europeia e, posteriormente, a política do continente. Ímpeto este que levara o país, décadas antes, a deflagrar duas guerras mundiais. O euro foi a aposta de Helmut Kohl, o chanceler da reunificação, para expiar os crimes do nazismo: criar uma Alemanha europeia e não uma Europa alemã.

Vinte anos depois, parece ocorrer uma inflexão no pensamento alemão pró-integração. Os parceiros da União Europeia reclamam exatamente que o país estaria tentando "germanizar" os parceiros. Ou seja: ditando as soluções da crise para outras nações e exigindo sacrifícios dos demais para poupar a si.

Obviamente, isso faz crescer hoje, dentre os europeus, o ressentimento antialemão. Que alimenta o nacionalismo. Que, por sua vez, inflama o ódio ao estrangeiro. E tudo, somado à recessão, acaba redundando em perigosos radicalismos políticos à direita e à esquerda.

O ressentimento contra os vizinhos, o nacionalismo e a crise econômica conduziram a Alemanha da década de 30 ao nazismo e, depois, à Segunda Guerra. É irônico que hoje o comportamento germânico é que contribui para criar condições análogas em nações parceiras.

O destino do continente está de novo em mãos alemãs. O salvamento ou o colapso do euro vai determinar o futuro da União Europeia. E uma eventual fragmentação do bloco terá implicações políticas mundiais. Seria um balde de água fria nas iniciativas de integração entre países e nos fóruns multilaterais. E um estímulo ao nacionalismo e ao protecionismo econômico. Um novo ciclo histórico pode estar a caminho.

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