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As cidades às vezes podem ser comparadas a pessoas. Cada uma tem seu jeito de ser. Algumas são conservadoras. Outras inovadoras. Há aquelas quentes, alegres, festivas. Curitiba costuma ser descrita como uma senhora recatada, fechada, fria. Talvez seja apenas tímida e evite demonstrar seu bom humor de forma explícita. Afinal, uma urbe que aplica tantas pegadinhas em seus cidadãos e principalmente nos forasteiros pode ser tão séria assim? Mas que pegadinhas, enfim? Por exemplo: aceitar o apelido de Cidade Sorriso ao mesmo tempo em que cultiva a fama de sisuda. É um sorriso contido, mas maroto. Típico de quem prega peças às escondidas.

Curitiba é especialista em enganar os desavisados. Quem nunca tentou desesperadamente procurar um endereço numa tal Avenida Comendador Franco para descobrir que se trata da Avenida das Torres?

As vias que vão mudando de nome sem avisar ninguém são uma instituição tipicamente curitibana

A cidade gosta de dar apelidos a seus espaços públicos. Mas eles criam uma confusão danada para quem se fia no endereço oficial. Se alguém pedisse a você onde fica a Rua Professor Fernando Moreira, no Centro, o que diria? Talvez ficasse algum tempo pensando antes de responder. Mas e se a pergunta fosse mais direta: Rua dos Chorões? Aí a resposta estaria na ponta da língua. O mesmo acontece com a Praça 19 de Dezembro. Melhor pedir pela Praça do Homem Nu.

Outra brincadeira de Curitiba é batizar um espaço público com o nome de um determinado bairro, mas situá-lo em outro lugar da cidade. O Hospital Cajuru fica no... Cajuru? Não. No Cristo Rei. Por alguma razão, na divisão oficial dos atuais bairros, promovida em 1975, o bairro Cajuru foi deslocado de sua principal referência. O mesmo ocorreu com o Presídio do Ahú, que não fica no Ahú. Está no Cabral. E a Rua Guabirotuba? Aí já é demais. Deve ficar no Guabirotuba... Não. Está no Prado Velho. Talvez alguém também se perca ao procurar um endereço no bairro Tingui indo para os lados do Parque Tingui. Os dois – o bairro e o parque – nem mesmo estão próximos um do outro.

Mas, se o bairro Tingui perdeu o parque, ao menos ganhou um terminal para chamar de seu: o do Santa Cândida. E a lista de terminais emprestados ao vizinho não para por aí: o do Pinheirinho oficialmente fica no Capão Raso. E o do Capão Raso, no Novo Mundo. E a Rua da Cidadania da Regional do Portão? Está na Fazendinha.

E as vias que vão mudando de nome sem avisar ninguém? Outra instituição tipicamente curitibana. São muitas. Só para ficar num exemplo: a Avenida do Batel. Tem nove nomes em toda a sua extensão: Rua Eduardo Sprada, Avenida Nossa Senhora Aparecida, Avenida Bispo Dom José, Avenida do Batel, Rua Benjamim Lins, Rua Dr. Pedrosa, Rua André de Barros, Rua Nilo Cairo e Avenida Senador Souza Naves. Ufa!

A Avenida do Batel é um típico caso de múltiplas personalidades. Como o de uma certa cidade que gosta de parecer recatada, mas que não perde a chance de se divertir pregando peças nos seus incautos cidadãos e visitantes.

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