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União. Essa foi a palavra de ordem nos discursos de Dilma Rousseff e Aécio Neves após a reeleição da presidente ter sido oficializada. Mas o que se viu antes e depois foi o contrário: o fomento da cizânia e um perigoso flerte com o autoritarismo, de ambos os lados.

O PSDB não ajudou em nada ao pedir à Justiça Eleitoral uma auditoria nas urnas eletrônicas para supostamente dissipar os rumores de que o segundo turno foi fraudado. Acabou por dar mais visibilidade ao boato – algo que só serve para alimentar movimentos como o que pede um golpe militar no país.

A oposição também erra ao reverberar o discurso que opõe ricos a pobres, sulistas a nordestinos, escolarizados a iletrados. Foi o que ocorreu, por exemplo, quando o deputado estadual Plauto Miró (DEM) disse que "os que pensam" votaram em Aécio. É fato que Dilma teve mais votos no Nordeste e entre os mais pobres e com menos educação formal. Mas os oposicionistas deveriam reconhecer que há racionalidade na escolha de candidatos do PT: o governo federal fez algo de bom para esse segmento da população.

A apologia da desunião, por outro lado, também faz parte do repertório petista. Lula tem manipulado o preconceito de classe, racial e político há muito tempo. Quando ainda era presidente, disse que a crise internacional havia sido causada por "gente branca de olhos azuis". Defendeu a necessidade de "extirpar o DEM" da política por ser um partido da "direita raivosa". Na campanha de reeleição de Dilma, comparou os tucanos a nazistas e chamou Aécio de "filhinho de papai".

Há ainda um forte ranço autoritário no PT, que se materializa no discurso que desacredita as instituições responsáveis por fiscalizar e controlar o governo. O STF foi acusado de promover um julgamento de exceção no caso do mensalão. Segmentos do partido estimulam a hostilidade contra a imprensa – passada a eleição, a regulação da mídia inclusive já surge como "prioridade" para os petistas.

Além disso, a primeira proposta de Dilma reeleita – o plebiscito da reforma política – também é uma demonstração de desapreço pelo Congresso, num momento em que o Planalto vislumbra mais dificuldade para aprovar suas matérias no Legislativo. O argumento de que o parlamento é incapaz de promover as mudanças de que o país precisa foi claramente expresso pelo ministro Gilberto Carvalho após a Câmara ter derrubado o decreto presidencial que criava conselhos populares. Segundo ele, a derrota do governo só reforça a tese de que a reforma política só sai com "forte mobilização popular". Mas, bom ou ruim, o Congresso tem tanta legitimidade quanto a presidente. E, ao desacreditá-lo, o Planalto se coloca no mesmo patamar daqueles que dizem que houve fraude na reeleição.

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