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Beronha e Natureza Morta já estão prontos. E devidamente pilchados. Seguem de mala e cuia para Porto Alegre no próximo mês. No dia 13, na Praça da Alfândega, participarão da 54ª Feira do Livro, especialmente convidados para o lançamento de "Abaixo a Repressão! Movimento Estudantil e as Liberdades Democráticas", dos jornalistas Ivanir José Bortot e Rafael Guimaraens. Ivanir é um dos cobrões da imprensa brasileira. O Rafael, idem.

O livro mostra como "milhares de jovens foram às ruas protestar contra a ditadura, na década de 70, abrindo caminho para a reorganização da sociedade civil e a reconquista da democracia", segundo a apresentação da editora Libretos.

Às 17 horas, haverá mesa-redonda: a importância do movimento estudantil para a redemocratização do país, com a participação dos autores do livro mais a psicanalista Liliane Froemming e o economista Cezar Alvarez. Às 19h30, sessão de autógrafos. Às 20 horas, na Tenda de Passárgada, o show Cordão da Saideira. Entrada franca (Beronha comemora).

Ainda sobre o livro: ele traz a história de medos e coragem, disposição e rebeldia, a saga do movimento estudantil do AI-5 à reconstrução da UNE, enfatizando o comportamento e a cultura peculiares daquela geração.

Vou pra Porto Alegre, tchau!

E tem mais

Beronha encontrou na biblioteca do Natureza, na mansão da Vila Piroquinha, uma raridade: "1.° de Abril – Estórias para a história", de Mário Lago, Editora Civilização Brasileira, lançado em 1964, logo após o golpe. Homem de teatro, de cinema, rádio e da música popular (é autor da letra de Amélia, 1942, a que seria a mulher de verdade), Lago reuniu histórias do pessoal com quem conviveu por 58 dias nas masmorras da Delegacia de Ordem Política e Social (Dops) carioca. Há personagens inesquecíveis, como Chico, o "cabôco" que foi preso como "comuna" dos mais perigosos. Chico não fazia a mínima idéia do que estava acontecendo – com o país e, notadamente, com ele.

É que, quando estourou a redentora, na virada de 31 de março para 1.° de abril muita gente tratou de desovar documentos e outras "cositas" que poderiam caracterizar a prática das tais atividades subversivas. E alguém largou na beira da calçada misteriosos pacotes. Perambulando pela cidade, procurando defender o rango do dia, Chico acabou encontrando os embrulhos. Surpresa: continham livros. E veio a malfadada idéia: colocá-los à venda feito um camelô literário. Sobre um caixote, distribuiu cuidadosamente a mercadoria, de modo a chamar a atenção dos passantes. Mas quem passou primeiro – e fez questão de parar com uma brusca freada – foi a turma da Dops, portando metralhadoras. Levaram obras de Marx, Lenine, Rosa de Luxemburgo, Trotski e outros autores que já engordavam o índex de caça às bruxas. Chico foi arrastado junto.

Restou o consolo de ter conhecido Mário Lago e ser homenageado por ele no capítulo intitulado "O subversivíssimo". Alguém "tão Chico que, Francisco, nele, seria apelido."

Mário morreu em 2002, aos 90 anos. Sempre coerente com suas idéias e convicções. Do Chico só restou o solidário registro do breve amigo de cárcere.

Francisco Camargo é jornalista.

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