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Não sei exatamente o motivo, mas a temporada eleitoral me trouxe à lembrança Don Camillo e Peppone. Quem, minha senhora? Eles são personagens do escritor Giovanni Guareschi e que ficaram famosos também – ou principalmente – pelas adaptações cinematográficas, com Fernandel e Gino Cervi. Don Camillo (Fernandel) é o pároco de uma cidadezinha italiana, onde o prefeito Peppone (Cervi) é comunista.

Julien Duvivier dirigiu O Pequeno Mundo de Don Camillo (1951) e O Regresso de Don Camillo (1953); Carmine Gallone fez Don Camillo e o Deputado Peppone (1955) e As últimas Aventuras de Don Camillo (1961).

Resumindo: o comunista faz de tudo para atormentar o padre e, este, igualmente, faz o diabo – sempre pedindo perdão a Deus, é claro – para azucrinar o comunista. Mas não se trata do Bem contra o Mal, ou, no caso, vice-versa. São, no fundo, inimigos pelas circunstâncias, que se satisfazem com pequenas molecagens (trocar o vinho da missa por vinagre ou colocar a imagem de um santo na mala do prefeito comunista que sai em visita a Moscou). Era época da Guerra Fria.

Nessa eleição internética (argh!), quem teve a satisfação de acompanhar os embates de Don Camillo e Peppone talvez sinta vontade de optar pela volta ao passado na hora de votar (esse deve ser o link com o início do texto, suponho).

Até porque não teremos a chance de acompanhar cena como essa, de um concorrido comício em Curitiba, décadas atrás: palanque meia boca, candidato exagera no entusiasmo e garante que "nesse bolso nunca entrou dinheiro do povo", ao que um anônimo cidadão retruca, na lata:

– Calça nova, hein?!

Ou a frase que se tornou marca registrada de quem foi eleito e reeleito vereador de Curitiba por várias vezes, e era, aliás, um político correto:

– Eu, que comi o pão da caridade pública, posso dizer etc, etc...

De fato. Ele tinha sido criado em um orfanato e sobreviveu graças à solidariedade humana (ainda há espaço para ela?).

Mais do que um bordão, uma frase genial.

Enquanto isso...

Encontro Beronha, ultimamente ainda abaladíssimo por conta das reformas. É, depois do apartamento, a pedreira é a reforma política. De tão descompensado que ficou, o amigo resolveu acatar a sugestão do Natureza Morta e minha, e fazer um check-up.

Mas, desta vez, Beronha transpirava alegria. Até parecia o imbatível Phelps, saltitante. Mas o motivo não era propriamente mais um triunfo olímpico, até porque o pódio, como se verá, era bem outro.

– Pois é, chefe, acabei de fazer radiografias do abdome. Jejum, fui forçado a cortar a cerveja – mas prometo descontar o tempo perdido, com juros, juro – e tomar um balde d’água. Encerrada a primeira parte do exame, recebi ordem – como tem general nesse mundo! – de esvaziar a bexiga usando o banheiro de mármore da salinha de radiografia. É, a clínica é chiquérrima, parecia a ex-mansão do Abadía, em Curitiba. Soldado raso, tratei de cumprir a determinação. No retorno do WC, devidamente aliviado, não resisti e dei um susto na "esculápia":

– Sinto muito, doutora, errei a mira e fiz xixi na tampa do vaso...

Francisco Camargo é jornalista.

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