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Fico cá pensando se durante as obras na Baixada – cavouca aqui, levanta poeira dali – algum operário não se deparou com um emblema perdido do "Grêmio Esportivo 5 de Maio". Seria um tesouro arqueológico. É difícil imaginar, mas nos subterrâneos do estádio, esse titã, repousam não só as tubulações que levaram o Rio Água Verde a entrar pelo cano, mas também os vestígios de um time da Suburbana que durante 25 anos fez a alegria do povo.

Tudo teria começado em 1939, quando a Água Verde ganhou um time de quarteirão, categoria "distração de domingo para maridos entediados". O fundador, um "russo branco" de nome Pedro Streintenberg, acolitado por alguns boleiros. Os jogadores, a turma da rua. Regra? Ninguém jogava por dinheiro. O campo, um terreno baldio, onde hoje está a Praça Afonso Botelho. Rivais havia, mas isso é conversa boba: a "homicídios" não registrou nenhuma contenda. E olhe que o "5" ficava de frente para o Atlético Paranaense. "Muita gente torcia para os dois, sem drama", observa o professor Paulo Osni Wendt, 72 anos.

Osni é um dos membros da confraria dos obcecados pelo "5". Tempos atrás, rodou a cidade para saber que fim tinha levado um troféu ganho em uma "peleja" de 1953, ano do Centenário da Emancipação Política do Paraná. Sem sucesso.

Outra de suas maratonas foi para entender por que diabos o time recebeu nome de um feriado mexicano. Não faz sentido. Cinco de maio é também o nascimento de Karl Marx. Pior ainda: as nonnas não deixariam um comuna ser laureado numa via rente ao cemitério e à paróquia. Quanto a 5/5 ser o Dia do Expedicionário, resposta errada: os jogadores do "5", Polinga e Cherro, foram pracinhas, mas a efeméride é posterior à fundação do clube. De todos os palpites, o melhor é que o "5", time, homenageava a "5", rua, rebatizada de Brasílio Itiberê nos anos 60. No momento, chamem-na Fifa International Zone.

A "5" estava para a Água Verde como a Manoel Ribas está para Santa Felicidade. Era endereço de gente conhecida – ali vivia o Bialle, motorista do Moysés Lupion; o Marinho político; Paulo Wendt, o "Rei da Noite". Uma das empresas de ônibus da cidade, especializada em jardineiras, ficava na esquina da Ângelo Sampaio e se chamava... "Viação 5 de Maio". A barbearia do pedaço era a...: "5 de Maio". O time, logo, devia se chamar "5 de Maio", essa data misteriosa.

Em 1990, o cabeleireiro Egon Oliveira, 45, comprou a barbearia. Sabia que era velha pra chuchu, de 1933, mas não se imaginava de posse um "patrimônio de redondeza", categoria não catalogada pelo Iphan. A inocência durou até o primeiro grisalho sentar na cadeira, pedir meia cabeleira curta e se pôr a cantar as glórias do "5", campeão em 44, 45, 47...". "Comecei a anotar o que eles me contavam. Acho um barato essa paixão por um clube que já acabou." Um cliente chegou a lhe prometer uma camisa grená e branca – marca do "5". Conversa fiada: nem pagando.

As partidas da agremiação estão documentadas no incrível arquivo do jornalista Levi Mulford Chrestenzen, 85 anos, 70 deles colecionando "tudo" sobre pequenos times. Reuniu, por baixo, 2,6 mil pastas com recortes e tais, incluindo um manuscrito enviado pelo jogador Nenê. Trata do "5", é claro. Um achado. O pesquisador calcula que na década de 1940 havia na cidade algo próximo de 80 clubes de bairro. E também se pergunta por que, entre tantos, o "esquadrão avinhado" ainda pulsa.

Por ironia, essa história não virou livro. Restam a memória e os palpites, a gosto. Diz-se que o "5" foi o primeiro time da capital a aceitar jogadores negros. Há controvérsias. "Talvez o Charuto, em 1945", lista Levi. Mas antes houve o Janguinho, do Coxa; o Acyr Gonçalves e o Nego Duio, do Palestra Itália. E os irmãos "Bananeiro", no Ferroviário? "Esse capítulo ainda tem de ser escrito", decreta o pesquisador.

E sossega leão: se o "5" foi avant garde, deixe estar. Seu charme grená venceu o tempo. Fez a coisa certa – em 1964, soube sair de cena, à Greta Garbo. Não tinha ambição de ser grande. Não queria se fundir. Talvez preferisse ser a lembrança de uma tarde de domingo na Baixada. Conseguiu.

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