• Carregando...
 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Mundo – O poeta Robert Burns escreveu versos que falam da vida e da paisagem da sua Escócia natal. O idioma usado é uma variação do inglês que inclui palavras escandinavas, holandesas, francesas e gaélicas. Os escoceses são o resultado de uma mistura de etnias que emigraram para o norte da ilha ao longo dos séculos. A língua registra esse movimento.

Um das figuras mais emblemáticas do sucesso americano, Steve Jobs era filho de um refugiado sírio e de uma americana de origem suíça. Foi entregue para adoção e criado pelo casal Jobs – ela, filha de uma refugiada armênia.

É compreensível que os europeus temam a perspectiva de que elementos de sua cultura sejam diluídos ou perdidos com a integração de grandes levas de estrangeiros. É compreensível que os governadores de alguns estados americanos que fecharam as portas para os refugiados sírios temam o terrorismo. Mas a história do ser humano é uma história de mestiçagem. Sempre foi assim. Não adianta resistir.

A história do ser humano é uma história de mestiçagem. Sempre foi assim. Não adianta resistir

Brasil – Uma estapafurdice deste ano confuso (houve tantas...): brasileiros nas ruas pedindo a volta dos militares. A maioria se poupa da vergonha de clamar pela ditadura; é sutil e fala apenas em governo militar. Mas eles sabem que o que pedem é a ditadura. Não estão argumentando que os militares são melhores administradores nem acreditam, em sã consciência, que não houve corrupção nos 21 anos dos generais-presidentes. O que esses manifestantes dizem é que não querem mais decidir. Querem abrir mão da responsabilidade.

É compreensível que, diante de tantos malfeitos de pessoas eleitas, da presidente até vereadores, os brasileiros digam “não quero mais tomar parte disso, não quero mais votar”. Mas isso é uma tolice. Fizemos progressos importantes nos últimos 30 anos. Abrir mão do esforço que é construir uma sociedade que funciona não nos levará a lugar nenhum.

Paraná – O governo paranaense fecha 2015 sem resolver duas pendências que se arrastam há anos. Em Ponta Grossa, o Museu de Vilha Velha, o grande sonho do professor e geólogo João José Bigarella, 93 anos, está abandonado. O maior cientista vivo do Paraná pesquisou durante décadas os museus de ciência de todo o mundo para fazer um projeto decente para o estado. O prédio está vazio, à espera de que as autoridades terminem o que foi começado. Em Londrina, a sala de cinema da Universidade Estadual de Londrina, o Cine Com-Tur UEL, única da segunda maior da cidade do Paraná destinada a filmes que não sejam blockbusters, está prestes a fechar. Os filmes agora são feitos no formato digital e o cinema da UEL não tem projetor adequado. O seu diretor, Carlos Eduardo Lourenço Jorge, vem batendo nas portas do governo e da iniciativa privada para conseguir um patrocinador para o novo projetor, sem resultados.

É compreensível que em períodos de crise o orçamento público priorize setores básicos. Mas educação e cultura são elementos básicos da sociedade e preservar o que já foi investido é uma forma de fazer bom uso do dinheiro público.

***

O ano do calendário é um ciclo artificial dentro do qual vários outros ciclos seguem sua trajetória. Que pena! Seria bom começar um ano realmente novo. Como consolo, as palavras do poeta Burns:

E aqui está minha mão, fiel amigo,

E dá-me também a tua,

E tomaremos um belo trago

Pelos velhos tempos passados!

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]