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Outro dia fui apresentada a uma moça paulistana que tem como profissão aconselhar pessoas quanto ao que vestir. A profissão tem um nome em inglês, que nem vou registrar aqui porque acho pedante.

Desculpe, Maria Helena, mas acho mesmo. Esse tal de personal isso e personal aquilo é um marketing muito artificial.

O fato é que Maria Helena ganha a vida dando conselhos a pessoas que querem melhorar sua imagem ou que não têm tempo ou disposição para escolher as roupas que vão vestir. Segundo ela, a maioria dos clientes se encaixa no segundo grupo. São pessoas ocupadas, profissionais sérios, e por isso o trabalho dela nesses casos não é muito divertido: pedem que compre ternos e camisas. As pessoas ocupadas e sérias, sejam homens ou mulheres, só vestem ternos. Inclusive, me conta Maria Helena, quando gostam de um, compram vários de cores diferentes (por "cores" entenda-se diferentes tons de cinza, bege e azul-escuro).

Mais divertidos são aqueles que estão no primeiro grupo, o pessoal que quer dar uma melhorada na aparência e reconhece que precisa de ajuda. Um problema comum entre eles, conta a moça, é o visual parado no tempo. Resumindo: as pessoas tendem a continuar repetindo o visual que um dia lhes caiu bem. É a moça que se sentiu ótima no baile de formatura e volta e meia compra outro vestido de babados de organza parecido com o que usou naquela noite. Ou o homem de 50 que segue usando o mesmo modelo de calça que destacava seu porte atlético aos 23. Qual é o problema de fazerem isso? – pergunto à Maria Helena. É que o corpo muda, cinturas engrossam, barrigas crescem e o tal vestido da formatura não cai mais tão bem, nem a saia justa, nem o jaquetão do Sarney.

Isso mesmo, ela teve um cliente que gostava de usar ternos com jaquetão, que vem a ser aquele paletó cruzado no peito e com lapela larga, que virou uma marca registrada do Sarney, junto com o bigode. Durante os cinco intermináveis anos em que esteve na Presidência da República, Sarney não tirou o tal jaquetão. Na biografia escrita pela jornalista Regina Echeverria, está registrado que, pela insistência dele em aparecer sempre em público de ternos bem cortados, ainda que de gosto duvidoso, Sarney foi eleito pela Federação das Associações dos Alfaiates do Brasil como o "homem mais bem vestido do país". Segundo o livro, até o próprio Sarney se espantou com a notícia. E mais: revelou que não tirava o jaquetão porque tem os braços muito magrinhos.

Leitor, me perdoe se fujo do assunto e se entro em detalhes assustadores, como esse dos braços magrinhos do Sarney. Voltemos às revelações da Maria Helena.

O tal cliente começou a usar jaquetões nos anos Sarney, quando estiveram brevemente na moda, e não parou mais. Passou anos torturando os alfaiates com sua fixação no mesmo modelo (com ombros e lapelas largas). Mas foram tantas as piadas ao seu estilo anos 80 que ele se submeteu aos conselhos da profissional e abandonou os jaquetões.

Maria Helena tem uma teoria para explicar essas obsessões, que certamente não afligem somente os paulistanos. Ela acredita que formamos nosso gosto para roupas naquele período da vida animado e agitado que vai dos 20 aos 30 anos. Congelamos na memória nossa melhor imagem, belos e estilosos exibindo o corpinho saudável e a alegria de viver. Cair na real e descobrir que o vestido de lycra agora fica ridículo ou que aquele terno ressalta a barriga que não para de crescer exige coragem e desprendimento. Como consolo, Maria Helena garante que seu cliente remoçou uns dez anos depois que abandonou o jaquetão. Aleluia!

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