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A pedido de uma amiga que vai a Portugal, procuro um endereço em Lisboa. A lojinha de do­­ces está situada na Rua da Mi­­se­­ricórdia, quase esquina com a Tra­­vessa da Espera. Anoto o en­­dereço e fico olhando o papelucho. Misericórdia com Espera – me dá inveja dos lisboetas. Os nomes de ruas deles são muito mais bonitos que os nossos.

Confira: em Lisboa você pode morar na Rua das Rosas, na do Ouro ou na dos Sapateiros. Dá pa­­ra visitar um amigo na Rua da Esperança e caminhar pela Cal­­çada da Estrela. Além de bonitos, estes nomes têm uma vantagem: são fáceis de memorizar. Porque todos nós sabemos o que é um sapateiro, uma estrela e uma esperança. Fica bem mais difícil quando a via foi batizada com o nome de alguém que não temos a menor noção de quem foi. Ge­­ralmente, foi parente do governador, do prefeito ou amigo do vereador.

Na teoria, batizar as vias públicas com nomes próprios seria uma forma de eternizar a lembrança de uma pessoa que foi importante para a cidade. Mas, sejamos realistas, caro leitor, dá para eternizar a memória de alguém que não seja no coração de quem o conheceu ou nos livros onde sua obra foi relatada ou está publicada? Quando nossos contemporâneos se forem, alguém ainda vai se lembrar de nós se nosso nome batizar uma rua ou uma avenida? Dá para acreditar nisso?

Sinceramente, não. É ilusão achar que plaquinhas na rua vão eternizar alguém. Um nome pode durar muito tempo, mas as pessoas que carregavam o nome desaparecem para todos aqueles que não as conheceram. Para todos esses, o nome na placa é uma combinação de letras, mais ou menos difícil de memorizar. Nesse quesito, Esperança e Rosas são melhores opções.

Esperança e rosas são eternas; nós e nossos feitos pessoais, não. Isso é triste? Um pouco, mas faz parte da vida. Não aceitar a transitoriedade da nossa existência é um sofrimento totalmente inútil, que não modificará nenhuma particulazinha desse universo que nos cerca. E, até aqui, eu es­­tava deixando de fora uma vantagem desse arranjo: no esquecimento, somos todos iguais.

Aliás, acho que batizar ruas e prédios públicos em homenagem a alguém não passa de um tipo de auto-homenagem: o fulano que faz isso quer mostrar como é importante, quer que todo mundo saiba que é capaz de fazer a cidade inteira decorar o nome da mãe dele porque ele ocupa o cargo que ocupa. Mal sa­­be ele que, logo, logo, nem o no­­me dele lembrarão.

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