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Julio Cesar de Souza

Depois de um longo período amargando um ostracismo político involuntário para quem, aos 37 anos, foi prefeito de Curitiba no ano em que a capital completou seu tricentenário, em 1993, e ministro do Esporte e do Turismo no governo Fernando Henrique Cardoso, Rafael Greca de Macedo está fazendo as pazes com a política. Ele aparece em primeiro lugar na corrida pela prefeitura de Curitiba na primeira pesquisa divulgada pelo Ibope na atual campanha, encomendada pela RPC TV, com 28% das intenções de voto. O segundo colocado, com 19%, é o atual prefeito e candidato à reeleição, Gustavo Fruet. Na manhã da última quarta-feira, ainda sob o efeito da divulgação da pesquisa, um entusiasmado Greca falou à coluna em seu escritório político, debruçado sobre o calçadão da Rua XV de Novembro, no Centro de Curitiba.

Por que você decidiu ser novamente candidato a prefeito de Curitiba?

RG: Para revogar o atual abandono da cidade. Eu vi que a cidade está perdendo qualidade de vida, está deprimida economicamente e socialmente humilhada pela presença da população de rua desvalida nos espaços públicos urbanos. Então, eu resolvi retomar a ideia de uma Curitiba mais forte do que as dificuldades, capaz de dizer que tendência não é destino.

Nas últimas eleições você foi candidato a prefeito e anteriormente já havia sido também a deputado. Desde que deixou o seu último mandato, você disputou várias eleições e não conseguiu se eleger. Agora, seu nome aparece em primeiro lugar na pesquisa. A que atribui essa mudança?

RG: À prisão dos patrocinadores dos meus adversários. Estão todos em Pinhais agora, então não jorra dinheiro fácil para tornar inviável a minha eleição que é sempre baseada no amor e na palavra.

É uma pesquisa para comemorar?

RG: Eu recebo com muita humildade o resultado. Nós ainda vamos apresentar o nosso programa de governo, o programa eleitoral ainda não está no ar, mas eu tenho muita esperança de vitória na proporção em que cresça na população curitibana a consciência de que nós precisamos mudar. Nós não aguentamos outro governo deprimido como o do Gustavo Fruet.

Você transitou por diversos partidos e correntes políticas. Você mesmo se diz cria do Jaime Lerner ou a melhor criação dele, depois foi para o PMDB do Requião, arquirrival de Lerner. Inclusive na eleição de 2012 você foi o candidato do PMDB com o apoio do Requião e do filho dele, que hoje é seu adversário. Como vê essas suas guinadas políticas?

RG: Com a ideia de que não é necessário olhar nem à direita nem à esquerda. É necessário olhar no centro. O meu partido é Curitiba. Eu vou procurar trazer o melhor do Jaime Lerner, o melhor do Requião e me transformar numa síntese que vai se centrar num humanismo curitibano, onde tem lugar tanto para a criatividade do Jaime Lerner quanto para a visão social do Requião quanto para a participação de todos os partidos que me apoiam.

Muito tem se falado na questão do apoio que recebeu do governador Beto Richa, que hoje está com a imagem bastante desgastada em razão de acontecimentos como o do episódio com os professores. Você foi cobrado por isso no debate de segunda-feira e talvez seja nos outros. Qual sua resposta?

RG: Eu não tenho compromisso com o erro alheio.

Portanto, considera que foi um erro do governador?

RG: Um erro do governo. Os apoiadores daquele episódio não estão comigo, estão na campanha do Ney Leprevost. É o [Eduardo] Sciarra (ex-chefe da Casa Civil) ou da Maria Victória, é o [Fernando] Franscischini (ex-secretário de Segurança). Ao que eu saiba o governador não comanda a polícia. Na questão dos professores eu estou completamente blindado. Eu sou filho do professor Eurico Dacheux de Macedo, da professora Terezinha Greca de Macedo, casado com a fascinante professora de francês, arqueóloga e jornalista Margarita Pericás Sansone, cercado de tias e tios professores, eu não tenho o menor problema. A educação e o ensino são o meu chão. Eu sou um homem de cultura, sou da Academia de Letras, então eu não posso ser contra os professores.

Você está escrevendo um livro sobre Curitiba...

RG: O meu livro está no prelo, deve ser lançado antes da eleição, vai se chamar Curitiba, Luz dos Pinhais. Tem 800 páginas e três mil ícones de ilustração, a capa é do Poty Lazzarotto e a editora é a Lucia Casillo e está ficando muito bonito. Será lançado na véspera da eleição exatamente pra me distinguir dos outros candidatos, todos convidados também a escrever os seus livros.

Faz algum mea-culpa em relação a algumas atitudes políticas suas?

RG: Não me arrependo de nada que vivi. Acho que eu sou o conjunto das circunstâncias que eu vivi e sou muito feliz de poder agora usar todas as lições da minha vida pra fazer uma gestão humanista e universal. Também não tenho nenhum ressentimento e não arrasto um baú de rancores. Já joguei todos eles fora. Eu quero ser livre agora, feliz, quero aplicar a lição do rei Salomão, de que nada torna o homem mais feliz do que fazer o bem sobre a Terra (risos).

Portanto, se você for eleito...

RG: Quando eu for eleito, não tem “se” com os índices que eu tenho (risos).

Ok, mas ainda tem algum chão pela frente...

RG: Sim, tem uma eleição...

Campanha, debates, mas enfim, quando você for eleito, segundo suas palavras, frise-se, acha que será sua melhor gestão depois de alguns insucessos eleitorais?

RG: Eu tenho muita esperança de fazer o melhor de mim. Eu acho que dá pra gente criar de novo um círculo virtuoso onde o empresariado, unido ao governo municipal somado com a população que ama Curitiba, com os que aqui nasceram, com os que aqui escolheram viver, consigam de novo fazer a cidade modelo voltar. A base da minha coligação é inovação e amor e nós vamos tentar fazer isso. Por exemplo, uma das propostas é criar anualmente em Curitiba, além do festival de teatro, do festival de música, do festival de ópera, criar uma feira nacional da inovação. Fazer Curitiba se voltar para a ideia da inovação. Eu estou com muita esperança de fazer um sistema de transportes movido a energia solar ou a biogás, usando para isso a estação de tratamento de esgoto da Sanepar e o lixo orgânico da cidade. Eu quero recriar a cadeia produtiva do lixo, que está abandonada na Cidade Industrial. Eu quero reerguer as cooperativas de catadores de papel e eu quero trabalhar da Curitiba de palafitas que existe lá na Caximba, hoje, até o Country Club com a ideia forte de que a cidade pode ser mais forte do que as dificuldades, pode superar a crise econômica se exercer criatividade e alegria. Eu quero reacender a luz dos Pinhais.

Entre os seus apoiadores está o ex-prefeito Luciano Ducci, que foi seu adversário na última eleição, a quem você criticou bastante a gestão...

RG: Disse bem: adversário, não inimigo. Critiquei o asfalto. Ele concordou comigo, acha que temos que mudar o modo de imprimação de tapa buracos.

Acredita que essas incoerências políticas já não têm mais tanta importância para o eleitor?

RG: Quem tem que explicar os apoios são os apoiadores, não sou eu. Eles vieram me apoiar, eu agradeço o apoio e com muito carinho vou fazer o melhor possível e o Luciano vai ser valioso coo deputado federal para a captação de recursos para o quadro dramático da saúde de Curitiba. Eu preciso de um deputado federal esclarecido e voltado para a área da saúde.

Sendo eleito prefeito, no meio do seu mandato haverá uma eleição para o governo do estado. Não se sentirá tentado a concorrer?

RG: Isso me distingue dos deputados que são candidatos a prefeito. Eu não quero ser governador.

Nunca?

RG: Diz a boa tese que nunca diga nunca, mas no momento eu quero ser prefeito de Curitiba. O meu propósito é ser prefeito de Curitiba. Eu não tive chance de reeleição, eu estou tendo a minha reeleição agora.

23 anos depois.

RG: Tudo tem seu tempo sobre a Terra e Deus sabe o que faz e eu confio na divina providência.

Qual sua posição sobre o Uber?

RG: A minha primeira obrigação será sempre com os taxistas de Curitiba. O Uber tem que ser taxado com ISS e tem que ser controlado e eu imagino que venha a ser com uma legislação nacional. Eu não tenho a pretensão de ser prefeito sobre o Vale do Silício, eu não posso intervir numa coisa que acontece a partir do Vale do Silício sobre nós. Então eu vou tentar regulamentar isso e tentar apoiar os taxistas. Eu penso, por exemplo, em usar os taxistas de Curitiba como uma espécie de frota pública, ao invés de ter carros oficiais, licitar serviços com os taxistas de Curitiba. Agora, veja, é o mercado que vai dizer isso, não sou eu. Tudo que vier de novo terá que ser regulamentado.

Já experimentou o Uber?

RG: Não.

Não tem curiosidade?

RG: Mas aqui no meu escritório há pessoas que usam táxi e há pessoas que usam Uber. Tem que chegar num meio termo. Essa tendência da uberização da economia é objeto inclusive de discussão da Hillary Clinton contra o Trump.

Metodologia
  • A pesquisa foi contratada pela Sociedade Rádio Emissora Paranaense S.A e foi realizada entre os dias 19 e 22 de agosto com 602 eleitores. A margem de erro da pesquisa estimulada é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) sob o protocolo Nº PR-04300/2016.
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