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Houve uma época em que os pais davam o nome de Shirley às filhas na esperança de que fossem adoráveis como a Shirley do cinema. E o mundo se encheu de Shirleys. Poucas corresponderam ao que, implicitamente, se esperava delas. As outras só foram Shirleys no nome. Mas durante um breve instante de suas infâncias todas foram Shirleys autênticas em potencial, projetos de Shirley que só porque a vida é injusta não deram certo. O que restou da desilusão foi uma geração inteira de Shirleys desperdiçada, como uma plantação frustrada em que nada floresceu. A própria Shirley do cinema só foi a Shirley dos sonhos por um instante fugidio. Depois cresceu, ficou adulta, foi infeliz no amor, virou política e, pior, republicana, e só o que ficou do seu instante de Shirley foram as covinhas.

Tonight

Só falo no assunto porque mexeu com meu vespeiro particular de memórias, pois não tem nenhuma relação com nossa realidade, com o beijo gay ou com os destinos da nação. Nós estávamos nos Estados Unidos quando começou na tevê o programa Tonight, o protótipo de todos os talk shows de fim de noite que existem hoje. Isso há, meu Deus, 60 anos! O show era feito em Nova York e o Jô Soares deles, na época, era o Steve Allen, que tocava piano, gostava de jazz, era um bom entrevistador e, com o seu cool, como dizem os franceses, e seu humor inteligente personificava, pra mim, tudo o que Nova York tinha de mais novaiorquino. Os cantores do programa eram o Steve Lawrence e a Eydie Gorme, casados, o Andy Williams e outra cantora cujo nome não encontro no vespeiro. A segunda fase do Tonight foi com o Jack Paar, que provocou uma grande crise quando, em protesto por uma censura que sofreu, abandonou o programa em plena transmissão – mas depois voltou. Em seguida veio o Johnny Carson, que ficou anos, quando o programa já era feito na Califórnia. E agora chegou a notícia de que Jay Leno, que substituiu Carson, também vai se aposentar. E, mais importante, que o Tonight vai voltar para sua origem, Nova York. Infelizmente, não posso voltar para os meus 17 anos. E a gente nunca volta para a mesma Nova York.

Papo vovô

O pai da nossa neta Lucinda, de 5 anos, é de Yorkshire, e ela só fala inglês com ele. E desenvolveu um vocabulário em inglês surpreendente, que muitas vezes não sabemos de onde vem. No outro dia, a mãe dela a viu sentada na privada, pensativa, e perguntou se era xixi ou cocô. E ela: "I’m evaluating". Ainda não tinha avaliado o que iria fazer.

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