Uma grande folha no prato e um olhar feroz para todo indivíduo que manifeste preferência por um bom bife. Se esta é uma "definição fundamental" do ser vegetariano (pelo menos, ainda é a corrente para muita gente), reconheço minha heterodoxia. Não consumo carne, mas nem por isso tenho folhas verdes em minhas refeições de todos os dias. Herege, abro exceção para leite, queijo e ovos (estéreis, de granja), sob a alegação de que não mato os bichos, mas "apenas" me aproveito de sua capacidade produtiva. E não sou, mesmo, muito dado a saladas, a menos que generosamente temperadas. Também troco refeições salgadas por doces, que, infelizmente, já me conferem uma risonha protuberância abdominal. Considero, enfim, um bom prato de feijão, arroz e batatas fritas como uma excelente opção para saciar a fome e evitar polêmicas.
O desejo de polemizar, aliás, é o grande erro de muitos seguidores do vegetarianismo. Em primeiro lugar, porque todo vegetariano catequético há de encontrar um não-vegetariano com as mesmas tendências. Em segundo lugar, porque as discussões costumam acontecer à mesa, o lugar menos indicado para convencer alguém a trocar a picanha pela alface ou vice-versa. E, por fim, porque a taxa de conversões nesses termos é baixíssima a opção vegetariana, creio, nasce sempre muito longe das panelas.
Em meu caso, a coisa se deu quando comecei a praticar Kung-Fu. Os chineses não são um povo vegetariano pelo contrário, eles consomem praticamente tudo o que se move , mas, na onda de "orientalismo", também tomei contato com o Zen, que aponta para o sofrimento dos seres vivos. Muito me impressionou, ainda, uma história em quadrinhos francesa que mostrava uma família de porcos criando seres humanos para a feijoada (chocante!). Como se pode ver, a motivação "Buda + HQ" não é tão simples, e dificilmente há de se repetir.
E que defesa eu faço de minha opção? Nenhuma! Se você quer comer carne, esteja absolutamente à vontade, não há nada de mal nisso. Só rezo isso sim é fundamental para comer em paz.



