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Na Câmara

Comandante da PM pede desculpas por excessos em ação no Bairro Alto

Coronel disse que condutas verificadas no caso não correspondem ao padrão da corporação. Vereador sugere que insatisfação dos policiais de base teria motivado excessos

O chefe do Primeiro Comando Regional da Polícia Militar (PM) do Paraná, coronel Ademar Cunha Sobrinho, foi ouvido, na tarde desta terça-feira (4), na Câmara de Curitiba e se desculpou publicamente pelos excessos cometidos por policiais em uma ação realizada no Bairro Alto, no fim de novembro. O caso foi denunciado por moradores, que afirmam ter sofrido agressões físicas, torturas e até racismo.

"Peço escusas pelo que aconteceu. Não é normal este tipo de conduta na Polícia Militar. Não é normal o preconceito e isto tem ocorrido o mínimo possível na corporação", afirmou Cunha Sobrinho. O coronel foi ouvido pelas comissões de Segurança Pública e de Direitos Humanos da casa.

O vereador Tico Kuzma (PSB), que preside a comissão de segurança, disse que vai acompanhar as apurações de responsabilidades conduzidas pela Corregedoria da PM e pediu para ser informado de todos os procedimentos. Já o vereador Algaci Túlio (PMDB) sugeriu que há uma insatisfação dos policiais de base, o que teria gerado os excessos registrados recentemente.

"Esta conduta me parece que não é do caráter do policial. Parece que a Polícia Militar passa por uma fase difícil e que o alto escalão não está satisfeito com o governo", disse o vereador. O coronel negou a possibilidade, afirmando que a insatisfação se resume ao aspecto salarial, mas que isso não teria impacto sobre o serviço. "Há blogs de policiais que pedem reposição salarial, mas não há boicote no serviço policial", garantiu.

A audiência foi acompanha pela advogada Andréia Cândido Vítor, que foi presa na ação e que afirma ter sido torturada pelos policiais e sofrido racismo. O caso só se tornou público, depois que ela decidiu denunciar os excessos na ação policial. "Espero a restauração emocional das pessoas que viveram a violência e a restauração profissional dos policiais que abordaram. Não tenho medo, tenho fé em Deus e no estado democrático, muito bem representado por esta Casa de Leis", disse.

O caso

Segundo a PM, a ação começou depois que uma equipe flagrou um motociclista sem capacete fazendo manobras perigosas na Rua Rio Guaíba, no Bairro Alto, por volta das 19 horas de sábado (24). O motoqueiro teria desobedecido a ordem de parar e entrado em uma casa. Moradores da casa negam que tenham havido perseguição e afirmam que o rapaz apenas estava com a moto ligada, mas parada, em frente à residência.

A ação desastrosa teria começado a partir desta abordagem. De acordo com moradores e vizinhos, policiais militares invadiram a casa e agrediram várias pessoas, entre elas uma idosa de 74 anos e uma adolescente portadora de deficiência física. Vídeos gravados por vizinhos mostram o grande número de viaturas paradas em frente à residência e uma aglomeração de policiais e moradores.

Em um vídeo divulgado pela Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (AbraCrim) e entregue ao Gaeco, seis pessoas afirmam ter sido agredidas. As imagens também mostram vários cômodos da casa e peças de roupas sujos de sangue, após a ação policial. Também é possível ver um pedaço de cassetete, possivelmente usado pelos policiais.

Onze pessoas foram presas, entre elas a advogada Andréia Cândidos Vítor. Ela afirma ter sido levada com outros três suspeitos a um módulo policial, na Praça da Liberdade, onde os quatro teriam sido agredidos com tapas no rosto e pontapés. Ela ainda teria sido vítima de injúria racial.

Na descrição da ocorrência, os policiais afirmam que foram hostilizados por moradores e que precisaram usar armas não letais, como teasers e bastões. Eles descrevem que as viaturas foram recebidas a pedradas, mas em nenhuma das imagens apresentadas é possível comprovar esta versão.

Na quinta-feira (29), dois oficiais da PM foram identificados e afastados de suas funções. O caso também é investigado pelo Grupo Especial de Atuação e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná (MP-PR).

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