Um menino de 10 anos morreu com um tiro na nuca em um confronto entre gangues, na noite de terça-feira, na Vila Jurema, São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. David Fernando Leal foi morto na frente do portão de casa, por volta das 20h30, na Rua Atílio João Bortoloti. A polícia descartou a hipótese de que uma bala perdida tenha vitimado o garoto. "O menino pode ter sido confundido ou morto por vingança", afirma o tenente Márcio Maia, comandante da 1.ª Companhia da Polícia Militar.
Uma das linhas de investigação revela que os tiros que acertaram David eram, na verdade, para o adolescente I.M.S, de 14 anos, conhecido por Beiço e apontado por populares como o "terror" do bairro. Dez pessoas acusadas de participação no assassinato entre elas I.M.S. e mais três menores foram presas entre terça-feira e ontem, em operação conjunta entre as polícias Civil e Militar.
No enterro ontem, no Cemitério de Borda do Campo, a mãe de David, a empregada doméstica Marli Aparecida Coutinho Leal, enfatizava que essa não teria sido a primeira vez que o filho e Beiço foram confundidos. Há 15 dias, uma mulher que teve a casa assaltada por I.M.S foi até o barraco de Marli para agredir David pensando que fosse o adolescente infrator. "Eles eram realmente parecidos", confirma a mãe.
I.M.S já havia sido detido semana passada por assalto à mão armada a um ônibus ele tem outras passagens pela polícia por furto e tráfico. Segundo o superintendente da delegacia de São José, Altair Ferreira, I.M.S estaria cometendo furtos e assaltos na Vila Independência, área de atuação de uma gangue rival de traficantes. "Os traficantes não gostam desse tipo de ação em sua área porque chama a atenção da polícia", explica.
Além dos menores apreendidos, foram presos sobre a acusação de formação de quadrilha, homicídio e porte ilegal de arma Emerson Luís de Oliveira, 31 anos; Romerino Soares de Almeida, 23; Valmir Ferreira de Souza, 19; Erasmo Carlos da Silva Kipinski, 29; Elias de Oliveira Reis, conhecido por Diego, 21; e Gilberto Almeida da Silva, conhecido por Batoré, 19. No momento da prisão, Valmir portava uma pistola ponto 40 e Erasmo um revólver 38. Um exame de balística vai averiguar se o tiro que vitimou David saiu de uma dessas armas.
Batoré seria o líder da gangue que assassinou David. Ele tem dois mandados de prisão preventiva por homicídio.
Moradores da Vila Jurema dizem que os tiroteios são rotineiros. Nos muros e portões das casas não é difícil encontrar marcas de balas. Com tal situação, diz uma mulher que prefere não se identificar, o jeito é os moradores se recolherem cedo. "Nós chamamos a polícia, mas eles nunca vêm", ressalta. A mesma mulher diz que duas horas antes do tiroteio de terça-feira a gangue chegou a alertar os moradores de que iria invadir o local.
O tenente Maia afirma que o policiamento na Vila Jurema é feito normalmente e que a PM atende a todos os chamados. Já Ferreira ressalta que as prisões ocorreram rapidamente porque a polícia já estava no encalço dos grupos eles seriam presos hoje se não fosse a morte de David.



