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Prefeitura ainda não sabe o que vai fazer com a área

Desde meados do ano passado, o imóvel sob o Viaduto do Capanema está sob responsabilidade da Secretaria Municipal do Meio Ambiente. A prefeitura repassou o prédio à pasta para que fosse implantado no local um Parque de Reciclagem e Inclusão Social.

Entretanto, segundo nota enviada pela Secretaria do Meio Ambiente, "em virtude de, no início deste ano, surgirem possibilidades de revitalização da Rodoferroviária e de seu entorno, a instalação do Parque de Reciclagem foi descartada". De acordo com a secretaria, o espaço vai ser contemplado pelo projeto de revitalização que será executado pela prefeitura e que já teria orçamento aprovado. O comunicado informa que a ocupação do espaço sob o viaduto está em estudos.

A prefeitura não deu detalhes sobre o imóvel. Não se sabe quando começou a ser construído nem para que. A prefeitura também não disse se algo já funcionou no local.

O local pode passar despercebido por muitas pessoas que transitam pela Avenida Dr. Dario Lopes dos Santos, no bairro Jardim Botânico, em Curitiba. Mas ali, atrás de pilastras amarelas e entre colunas azuis, sob o Viaduto do Capanema, há uma construção abandonada e pertencente à prefeitura de Curitiba, que está sendo usada como ponto onde usuários se reúnem para consumir drogas e como abrigo para moradores de rua.

A prefeitura não divulgou as dimensões da construção, mas o imóvel tem cinco cômodos amplos e impressiona pela sujeira e pelo cheiro forte de urina e fezes. Um dos espaços, é um banheiro coletivo desativado em ruínas. Não há nenhum tipo de estrutura que impeça o acesso, que é feito pela frente e pelas laterais. Não há portas nem janelas e as paredes são de tijolos vazados. Pelo chão, encontram-se muito lixo, garrafas vazias e até latas improvisadas como cachimbos.

Um homem de cerca de 20 anos afirmou que mora no local com outras duas famílias. Ele confirmou que o imóvel é usado como ponto de consumo de drogas – sobretudo o crack – inclusive, à luz do dia, o que seria negativo a quem está abrigado no prédio. Na laje que forma um pavimento superior é possível ver um varal com roupas estendidas. Logo à entrada do prédio, há um barraco de dois metros por um, com uma cama improvisada, onde vive um homem de cerca de 40 anos. Sob um pavimento, aos fundos do viaduto, um espaço há três meses serve de abrigo para um homem de 31 anos, que afirmou ser catador de materiais recicláveis.

Violência

O comandante do 20º Batalhão da Polícia Militar (BPM), coronel Carlos Alberto Bührer Moreira, aponta que os casos de violência no entorno do viaduto estão diretamente ligados às drogas. A polícia não tem um levantamento estatístico, mas na avaliação dele, pelo menos 80% das ocorrências estariam relacionadas ao crack. De acordo com o coronel, os furtos e roubos são cometidos por usuários para sustentar o vício. "Eles procuram levar qualquer objeto que, posteriormente, possa ser trocado por droga", disse.

Bührer afirma que os delitos são cometidos, em geral, por pequenos grupos –em duplas ou trios – e os criminosos usam armas brancas ou simulacros de armas de fogo para coagir as vítimas.

Os acontecimentos comprovam a panorama traçado pelo coronel. No dia 16 de maio, em uma tentativa de assalto, um agricultor de 60 anos foi esfaqueado no viaduto e, posteriormente, morreu no hospital. A polícia suspeita que o crime tenha sido cometido por usuários que frequentam o imóvel sob o viaduto. Há duas semanas, a filha do aposentado Nilton Harry Bronemann, que está grávida de sete meses, foi assaltada ao passar por ali quando ia ao mercado, durante a tarde. Dois homens a ameaçaram com uma faca e levaram a bolsa e o celular da gestante. "Aqui, não tem horário em que nos sentimos seguros", disse o aposentado.

A lateral da construção acaba servindo como atalho entre a Av. Dario Lopes dos Santos e a Av. Pref. Omar Sabbag, que começa sobre o viaduto. Segundo a PM, muitos casos de roubos acontecem nesta passagem. "É uma pena ver um prédio público, que poderia estar sendo bem aproveitado, estar abandonado assim", disse o advogado Carlos Camargo Rodrigues.

De acordo com moradores e comerciantes o prédio nunca foi ocupado pelo poder público e os casos de roubos e furtos causados por frequentadores do imóvel aumentaram desde o início do ano, embora aconteçam há anos.

Edilaine Carquino, balconista de uma padaria na Rua Atílio Bório, conta que funcionários do estabelecimento são diariamente coagidos pelas pessoas frequentam a construção. "Eles 'marcam' a nossa cara. Aí, a gente teme que algo aconteça lá fora", disse a balconista, que já foi roubada na região. A comerciante Marta Marra aponta que os casos de roubos e furtos têm afastado os consumidores. "Se não há lugar para estacionar na frente da loja, os clientes nem param. Já estou atendendo em domicílio para não perder o movimento", contou.

Na outra extremidade do viaduto, em frente à Avenida Pres. Affonso Camargo, um prédio semelhante, onde já funcionou um restaurante popular, está ocupado e conservado. O local foi cedido à Urbanização Curitiba S.A (Urbs), que mantém ali seu arquivo morto. Entretanto, há cerca de um mês, a empresa precisou colocar vigilância 24 horas, em função de casos de vandalismo que estavam ocorrendo.

Policiamento

Em uma das idas da equipe da Gazeta do Povo ao local, uma viatura da PM fazia patrulhamento na construção. Na ocasião, o policial disse que passa diariamente por ali, pelo menos duas vezes por turno, mas que os ocupantes voltam assim que a polícia deixa o prédio.

Segundo o coronel Bührer, o policiamento na área é de responsabilidade do 20º e do 12º BPM. A segurança do entorno do viaduto é feito por 12 policiais por turno das Rondas Ostensivas com Auxílio de Motocicletas (Rocam), quatro equipes por turno das Rondas Táticas Motorizadas (Rotam), que atuam com viaturas, além do efetivo que permanece em uma base da Rodoferroviária.

"O nosso efetivo está nas ruas e o policiamento está sendo feito. Infelizmente, a polícia não pode ser onipresente e os casos acontecem", disse o coronel.

Veja a localização da construção

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