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Pais recorrem às assessorias para orientar as rotinas infantis, como brincar e comer | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Pais recorrem às assessorias para orientar as rotinas infantis, como brincar e comer| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Entrevista

Maria Lucia Paiva, psicóloga

A psicóloga Maria Lucia Paiva, doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo, especializada em temas da família, diz que busca da perfeição e narcisismo típicos da sociedade atual levam pais a buscar ajuda especializada.

O que pode explicar que pais procurem "aperfeiçoamento"?

Uma das causas é a falta de referências em como educar. Aquele discurso único de antigamente já não existe. Até de família não há mais um só modelo. Somado a isso, vivemos em uma sociedade tecnicista.

Mas há outros fatores?

Também porque vivemos em uma sociedade narcisista, em que temos de acertar em tudo. Os filhos vêm para cumprir o que os pais não conseguiram, o que leva muitas vezes a cobranças demais sobre as crianças, a exigir que elas sejam perfeitas.

O perfil de quem busca ajuda são de pais com problemas?

Algumas situações exigem ajuda especializada, mas muitos pais procuram mais por ansiedade. Às vezes, os supostos sintomas são questões normais da idade. Por exemplo, aos 3 anos, toda criança faz birra. Faz parte do desenvolvimento delas.(AE)

Foi-se o tempo em que palavras como "aperfeiçoamento", "consultoria" e "cursos" pertenciam exclusivamente ao vocabulário profissional. Muitas mães e pais parecem acreditar também que para cumprir bem sua função familiar é preciso estudar. Com isso, cresce a oferta de cursos, palestras e consultorias semelhantes ao programa "Supernanny", que visam a melhorar o desempenho dos pais.Maria Cristina Covre, de 29 anos, mãe de Lucas, de 2, e Sabrina, de 9 meses, procurou a escola AeD, em São Paulo, por indicação de um amigo. Fez o módulo para estimular crianças de até 6 meses, depois deu sequência nos estudos com cursos que abrangem até os 6 anos. "Em qualquer área, a gente sempre pode aprender uma nova técnica, aprimorar-se", diz Cristina, falando do instinto materno como se fosse uma profissão. "Toda mãe quer brincar com seu filho e também estimulá-lo. O curso me mostrou um caminho", relata.

Para a pedagoga Julia Man­glano, da AeD, boas práticas desde cedo deixam a criança mais inteligente, saudável e feliz. "As informações começam a ser gravadas no cérebro desde o nascimento; os estímulos certos ajudam no desenvolvimento neurológico e dos bons hábitos. Mas tudo tem de ser feito de forma lúdica", aconselha. "Os pais nem sempre fazem as coisas certas porque não sabem."

Em Brasília, os donos da escola Boobambu passaram a oferecer treinamentos para pais ao notar que muitos acabavam se matriculando em oficinas destinadas a babás. "A vida de todo mundo é uma correria e a formação do ser humano é complexa", diz a psicóloga Stela Lobato, uma das sócias. Na escola, pais inseguros diante de sua complexa tarefa dispõem de palestras sobre temas que vão desde primeiros socorros até como dar limites.

A empresária Melissa Matteo, mãe de duas meninas de 4 anos e 7 meses, aprovou as aulas e sempre recomenda a amigos. "É bom para vermos que nossa verdade não é a única", filosofa. Segundo Melissa, a troca de experiência com outros pais também ajuda muito. "Existem algumas técnicas, mas em educação não há receitas prontas. A vantagem de ir a essas aulas é que elas fazem você refletir."

De acordo com a antropóloga da Universidade de Campinas Guita Grin Debert, a procura por cursos para pais é reflexo de uma sociedade que valoriza "saberes especializados". "Há quase uma certeza de que o que os nossos pais, avós e bisavós faziam já não serve mais", afirma.

"O problema é que existem várias teorias. O conhecimento especializado não é consensual, o que provoca insegurança." Para Guita, a redução no número de filhos e a vontade de ter uma relação mais igualitária também influenciam.

Em domicílio

Quando estava grávida de Beatriz, a terceira da prole, Adriana Alves decidiu que precisava de ajuda. "Não sabia como conseguiria dividir a atenção entre os dois e mais uma que ia chegar", relata. Mesmo tendo delegado a seus irmãos a administração diária de sua em­­presa, Adriana diz que "faltavam horas no dia". Sua opção foi contratar uma consultoria familiar.

Com ajuda da empresa Babá Ideal, de São Paulo, organizou uma nova rotina para casa e treinou sua babá. "Deixei na geladeira a lista com cada atividade e seu horário, até tudo se tornar natural", conta a mãe. "Antes, o Enzo (de 6 anos) fugia do banho. Agora, aprendeu que tem hora para tudo, para brincar, tomar banho, dormir."

Foram também as dicas de Antoniele Fagundes, dona da Babá Ideal, que resolveram a dificuldade de Pietro, de 3 anos, na hora de comer. "Toda mãe sabe que tem de dar banho, alimentar, brincar, mas não sabe instintivamente como fazer tudo isso da melhor forma", afirma Adriana.

Antoniele reconhece as semelhanças entre o serviço que oferece e o programa "Supernanny", em que uma babá ajuda pais com dificuldade em criar os filhos. "Também vou à casa de pessoas para dar consultoria. Mas o programa é uma caricatura", diz.

Segundo a consultora, quem a procura são pais conscientes da importância da educação em casa. "A maioria das famílias fica preocupada em escolher a escola, mas o aprendizado mais importante está dentro de casa", afirma Antoniele.

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