Resumo desta reportagem:
- O coronel Jorge Eduardo Naime, da PMDF, está preso há 157 dias por ordem de Alexandre de Moraes por suposta omissão em relação aos atos violentos de 8 de janeiro em Brasília. Ele é a única autoridade que segue presa em decorrência das investigações.
- De perfil discreto e avesso a manifestações partidárias, o oficial estava de férias na data e deixou sua residência para combater os atos. Ele prendeu manifestantes e chegou a ser ferido com o disparo de um rojão.
- Desde a prisão, não vê nenhum dos cinco filhos menores de idade. Um deles tem hidrocefalia e Síndrome de Chiari, e precisa realizar uma cirurgia. Sozinha, a esposa não se vê em condições de autorizar o procedimento com o marido detido.
- A defesa já fez quatro pedidos de soltura, todos negados por Moraes. Até o momento não houve nenhuma denúncia contra o coronel.
Desde o dia 7 de fevereiro, o coronel Jorge Eduardo Naime, ex-comandante do Departamento de Operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), está preso preventivamente por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A prisão está relacionada a uma suposta omissão em relação aos atos violentos de 8 de janeiro em Brasília. No entanto, o policial estava de férias no dia das depredações e mesmo assim, ao saber do ocorrido, deslocou-se à Praça dos Três Poderes e passou a comandar as tropas para desmobilizar os manifestantes.
Durante a ação, prendeu vândalos e chegou a ser atingido por um rojão disparado por um dos manifestantes, o que ocasionou diversos ferimentos em suas pernas. Mesmo assim, quase um mês após o episódio, foi preso sob a suspeita de omissão durante os ataques.
Ao todo, a defesa do oficial já apresentou quatro pedidos de soltura. A última negativa se deu no início de julho. Na decisão, Moraes disse que é “evidente a necessidade da manutenção da custódia para resguardar a ordem pública e por conveniência da instrução criminal”. Segundo o ministro, há risco de que o investigado possa, em liberdade, “comprometer as investigações, a colheita de provas e a persecução penal”.
Na prisão, o oficial passa por uma situação delicada de saúde: já perdeu 14 quilos, apresenta quadro depressivo e possui comorbidades. Não vê nenhum dos cinco filhos menores de idade desde fevereiro, já que a Justiça ainda não autorizou os pedidos de visita. Um dos filhos, de 14 anos, passa por situação delicada de saúde – portador de hidrocefalia e Síndrome de Chiari, teve seu quadro agravado desde a prisão do pai.
Na madrugada desta quinta-feira (13), o coronel teve uma queda de pressão e, ao tombar, tentou se apoiar num armário, que acabou caindo sobre si, o que o fez ser conduzido ao hospital. A família teme que seu quadro de saúde, em especial de diabetes, esteja evoluindo e tenta na Justiça a autorização para que médicos especialistas possam consultá-lo.
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“Maior arrependimento dele foi ter saído de casa para conter os manifestantes”, diz advogado
Ao participar, em 26 de junho, da CPMI dos atos de 8 de janeiro na condição de testemunha, Naime se emocionou, disse que não sabia por que estava preso e destacou seu papel no combate aos atos de violência para confrontar a hipótese de omissão.
“Eu já estou há cinco meses preso sem que realmente saiba por que estou preso. Eu me encontrava de licença, fui acionado para poder estar no cenário do dia 8, me apresentei. A situação do dia 8 começa a se resolver, e os prédios públicos começam a ser desocupados exatamente quando eu chego e começo a comandar as tropas da Polícia Militar”.
À reportagem, a defesa do coronel afirmou que ele havia solicitado as férias com antecedência e gozava regularmente do período, inclusive tendo havido a nomeação de um oficial para exercer sua função durante o período de ausência.
“O maior arrependimento da vida dele foi ter ido lá ajudar a conter os manifestantes. Ele não tinha nenhuma obrigação de ir, e se tivesse ficado em casa não estava acontecendo nada disso”, diz Gustavo Macarenhas, que compõe a defesa de Naime.
“Assessorei o ministro Marcos Aurélio durante três anos, meu sócio assessorou Gilmar durante quatro anos. Entendemos bem as dinâmicas de investigação no Supremo. Essa prisão dele não faz o menor sentido, a conta não fecha. Nenhuma das investigações qualifica a prisão”, afirma o advogado. “Basicamente é o seguinte: o ministro Alexandre tem a bola do jogo e se quiser soltar, solta. Se não quiser, não solta”, prossegue.
Esposa aponta injustiça e aguarda soltura de Naime para que filho seja operado
Em entrevista à Gazeta do Povo, a esposa do coronel, Mariana Adôrno Naime questiona o fato de o marido, que estava de fora do planejamento das operações, estar preso, em contraste com várias outras autoridades que estavam diretamente envolvidas na coordenação da segurança em Brasília.
“Quando ele foi surpreendido com os acontecimentos, se colocou à disposição e ficou na Esplanada até 3 horas da madrugada. Que omissão há nisso? É muita injustiça as pessoas que eram responsáveis pelo planejamento, coordenação e operacionalização estarem soltas, e ele, que não sabia de nada, estar preso. Por que ele foi o escolhido?”, questiona.
Em relação ao filho que possui quadro delicado de saúde, ela afirma que o garoto já passou por oito cirurgias, a última há dois anos atrás. Segundo os médicos, ele deve ser submetido a uma nova cirurgia devido ao quadro de síndrome de Chiari, agravado pelo afastamento do pai. Relatório psicológico que a reportagem teve acesso aponta “ansiedade generalizada”, “sofrimento emocional severo” e “transtorno de estresse pós-traumático”.
“Quando o Naime foi preso, o quadro dele passou a se agravar: dores de cabeça mais intensas, vômitos, dores e ansiedade. Os médicos querem submeter ele à cirurgia o mais rápido possível, mas para mim é muito difícil entrar no centro cirúrgico sem meu marido, e para ele sem o pai do lado. Também para o Naime, preso sem saber que estamos entrando. É muito difícil lidar com tudo isso”, desabafa Mariana.
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