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Ação cidadã

De olhos fechados para o bairro

Pesquisa mostra que a grande maioria da população se isola e não participa de atividades comunitárias

Paulo Nascimento, presidente da Associação dos Condomínios do Batel: mobilização para conseguir mais segurança e trânsito melhor | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Paulo Nascimento, presidente da Associação dos Condomínios do Batel: mobilização para conseguir mais segurança e trânsito melhor (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)
Confira como os 660 entrevistados responderam às questões |

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Confira como os 660 entrevistados responderam às questões

Encontros da associação de moradores e do conselho comunitário de segurança, ações voluntárias, reunião de condomínio, registro de reclamações na prefeitura. Nada disso parece mobilizar a maioria dos habitantes de Curitiba, que prefere ficar entre quatro paredes a pôr a boca no trombone e a participar da vida comunitária. Predominam o cansaço, o pouco tempo, a falta de convite, o filho pequeno, a descrença de que vai adiantar alguma coisa.

Pesquisa realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas a pedido da Gazeta do Povo entrevistou 660 curitibanos para saber se a população desenvolve ações de cidadania. O que mais se ouviu foi "não", principalmente para a pergunta da participação em encontros comunitários. Cerca de 90% dos entrevistados responderam que não participam de reuniões da associação de bairro. Dos que moram em prédio, 59,6% não vão a reuniões de condomínio.

Os entrevistados também desconhecem o que acontece na comunidade. A maioria não sabe se no bairro onde mora há escritório político de vereadores para ouvir necessidades da comunidade (40,9%) ou se existe conselho comunitário de segurança (53,8%). Grande parte dos moradores também não telefona para a central de atendimento 156 da prefeitura para registrar reclamações ou enviar sugestões ao poder público nem procura o Procon para reclamar de algum produto defeituoso.

Se por um lado quem não participa comemora maior tempo livre e menos dor de cabeça, por outro a sociedade perde . O alerta é do cientista político da Universidade Federal do Paraná Renato Perissinotto, que, junto com Mário Fuks e Nelson Rosário de Souza, escreveu o livro Democracia e Participação: os Conselhos Gestores do Paraná. Perissinotto reconhece que há um "ônus da participação" à população, mas completa que, com baixo envolvimento, assuntos de interesse público ficam na mão de uma minoria. "Nas sociedades em que as pessoas participam há tendência maior de o governo ser mais responsivo às preferências do cidadão porque a população pressiona. Na população apática, o governo faz o que bem entender", analisa.

Associações

Em Curitiba existem 945 associações, como entidades beneficentes, clubes de mães, de terceira idade, associações de moradores, entre outros. A média é de uma associação a cada 1,9 mil curitibanos. A maioria delas está nos bairros da Regional Pinheirinho, Cajuru e Boa Vista. Os moradores destas regionais estão entre os que mais responderam "sim" à pergunta do Paraná Pesquisas sobre a existência de associação de moradores no bairro, com índices acima de 60%.

Já entre os moradores da Regional Matriz, que compreende bairros como Centro, Batel e Cabral, 60% responderam que não sabem se no bairro existe associação. Para o consultor jurídico da cooperativa de geração de renda Ambients e membro do Conselho da Cidade de Curitiba, Bruno Meirinho, as pessoas se preocupam com o bairro, mas não com a cidade como um todo. Ele aponta que a participação é maior nos bairros mais carentes e que, se a pesquisa fosse feita nestes locais, o resultado seria outro.

"Os mais pobres se organizam mais até como forma de sobrevivência e estratégia de conseguir alguma coisa. Quem é mais estabelecido acaba se fechando no individualismo", concorda o líder comunitário Aloize Gogola, membro da Associação de Moradores da Vila São Pedro. Ele aponta, porém, que, quando o problema é abrangente e não atinge a pessoa individualmente, o empenho dos moradores em resolvê-lo é menor.

O presidente do conselho comunitário de segurança do Juvevê, Norberto Voss, concorda com a baixa participação da comunidade. "Quando tínhamos índices de violência mais elevados, a população participava mais", afirma. O conselho conseguiu revitalizar praças do bairro e aumentar o policiamento. Voss está há cinco anos à frente do conselho e foi reeleito no ano passado, na falta de outro candidato. Ele confessa que gostaria que outras pessoas trouxessem ideias novas. "O dia-a-dia de hoje de todo mundo é bastante atarefado e a vida de todos nós não é fácil. Acredito que, na hora que tivermos consciência comunitária maior, todos os resultados serão melhores."

Os bons resultados começam a aparecer pela vizinhança. Na pesquisa feita com os curitibanos, a maioria (58,3%) afirmou que no último mês conversou mais cinco vezes com o vizinho mais próximo. Outro dado positivo é que os moradores (62,3%) costumam avisar o vizinho quando vão viajar para que ele fique de olho na casa vazia. Sinais de que a participação comunitária pelo menos já saiu da porta de casa. Ainda falta a cerca.

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Interatividade

O que impede que o morador de Curitiba tenha maior participação na vida comunitária?

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