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Paulo Nascimento, presidente da Associação dos Condomínios do Batel: mobilização para conseguir mais segurança e trânsito melhor | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Paulo Nascimento, presidente da Associação dos Condomínios do Batel: mobilização para conseguir mais segurança e trânsito melhor| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Incentivo ao cidadão mantido pelo governo ainda é pouco conhecido

Em 1995, para incentivar ações de cidadania na população, o governo do Paraná criou a Coordenadoria dos Direitos da Cidadania (Codic). O órgão, hoje composto por quatro servidores e alguns estagiários, promove cursos, palestas e conferências, além de participar de conselhos de políticas públicas. Passados 14 anos da criação, no entanto, 89% dos entrevistados pelo Instituto Paraná Pesquisas disseram não conhecer a Codic.

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Exemplo de persistência no Batel

Para estimular cada vez mais a participação dos moradores nas decisões, o presidente da Associação dos Condomínios do Batel, Paulo Nascimento, se adequou às novas tecnologias. Reuniões e novidades da associação são enviadas por e-mail aos 670 cadastrados. A iniciativa é mais um exemplo da persistência de Nascimento, que chega a distribuir carta para os condôminos "cutucarem" o síndico para ir às reuniões. "A mobilização é a grande dificuldade, mas, por outro lado, se fosse pensar nos fatos negativos, nunca se faria nada. Morreria na primeira reunião. Tem que ser um pouco persistente."

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Maioria evita ir a reuniões de associação

Apesar de reconhecerem a importância do envolvimento, as pessoas alegam diversos motivos para não participar de atividades comunitárias. A fonoaudióloga Fátima Lourenço participa quando pode das reuniões de condomínio e faz trabalho voluntário na Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas. Mas de reunião de moradores ela nunca participou. "É um pouco de acomodação. Onde eu morava antes, no Jardim das Américas, ia na papelaria e via um aviso da associação da comunidade, mas acabava protelando. Às vezes, a gente quer descansar", afirma.

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  • Confira como os 660 entrevistados responderam às questões

Encontros da associação de moradores e do conselho comunitário de segurança, ações voluntárias, reunião de condomínio, registro de reclamações na prefeitura. Nada disso parece mobilizar a maioria dos habitantes de Curitiba, que prefere ficar entre quatro paredes a pôr a boca no trombone e a participar da vida comunitária. Predominam o cansaço, o pouco tempo, a falta de convite, o filho pequeno, a descrença de que vai adiantar alguma coisa.

Pesquisa realizada pelo Instituto Paraná Pesquisas a pedido da Gazeta do Povo entrevistou 660 curitibanos para saber se a população desenvolve ações de cidadania. O que mais se ouviu foi "não", principalmente para a pergunta da participação em encontros comunitários. Cerca de 90% dos entrevistados responderam que não participam de reuniões da associação de bairro. Dos que moram em prédio, 59,6% não vão a reuniões de condomínio.

Os entrevistados também desconhecem o que acontece na comunidade. A maioria não sabe se no bairro onde mora há escritório político de vereadores para ouvir necessidades da comunidade (40,9%) ou se existe conselho comunitário de segurança (53,8%). Grande parte dos moradores também não telefona para a central de atendimento 156 da prefeitura para registrar reclamações ou enviar sugestões ao poder público nem procura o Procon para reclamar de algum produto defeituoso.

Se por um lado quem não participa comemora maior tempo livre e menos dor de cabeça, por outro a sociedade perde . O alerta é do cientista político da Universidade Federal do Paraná Renato Perissinotto, que, junto com Mário Fuks e Nelson Rosário de Souza, escreveu o livro Democracia e Participação: os Conselhos Gestores do Paraná. Perissinotto reconhece que há um "ônus da participação" à população, mas completa que, com baixo envolvimento, assuntos de interesse público ficam na mão de uma minoria. "Nas sociedades em que as pessoas participam há tendência maior de o governo ser mais responsivo às preferências do cidadão porque a população pressiona. Na população apática, o governo faz o que bem entender", analisa.

Associações

Em Curitiba existem 945 associações, como entidades beneficentes, clubes de mães, de terceira idade, associações de moradores, entre outros. A média é de uma associação a cada 1,9 mil curitibanos. A maioria delas está nos bairros da Regional Pinheirinho, Cajuru e Boa Vista. Os moradores destas regionais estão entre os que mais responderam "sim" à pergunta do Paraná Pesquisas sobre a existência de associação de moradores no bairro, com índices acima de 60%.

Já entre os moradores da Regional Matriz, que compreende bairros como Centro, Batel e Cabral, 60% responderam que não sabem se no bairro existe associação. Para o consultor jurídico da cooperativa de geração de renda Ambients e membro do Conselho da Cidade de Curitiba, Bruno Meirinho, as pessoas se preocupam com o bairro, mas não com a cidade como um todo. Ele aponta que a participação é maior nos bairros mais carentes e que, se a pesquisa fosse feita nestes locais, o resultado seria outro.

"Os mais pobres se organizam mais até como forma de sobrevivência e estratégia de conseguir alguma coisa. Quem é mais estabelecido acaba se fechando no individualismo", concorda o líder comunitário Aloize Gogola, membro da Associação de Moradores da Vila São Pedro. Ele aponta, porém, que, quando o problema é abrangente e não atinge a pessoa individualmente, o empenho dos moradores em resolvê-lo é menor.

O presidente do conselho comunitário de segurança do Juvevê, Norberto Voss, concorda com a baixa participação da comunidade. "Quando tínhamos índices de violência mais elevados, a população participava mais", afirma. O conselho conseguiu revitalizar praças do bairro e aumentar o policiamento. Voss está há cinco anos à frente do conselho e foi reeleito no ano passado, na falta de outro candidato. Ele confessa que gostaria que outras pessoas trouxessem ideias novas. "O dia-a-dia de hoje de todo mundo é bastante atarefado e a vida de todos nós não é fácil. Acredito que, na hora que tivermos consciência comunitária maior, todos os resultados serão melhores."

Os bons resultados começam a aparecer pela vizinhança. Na pesquisa feita com os curitibanos, a maioria (58,3%) afirmou que no último mês conversou mais cinco vezes com o vizinho mais próximo. Outro dado positivo é que os moradores (62,3%) costumam avisar o vizinho quando vão viajar para que ele fique de olho na casa vazia. Sinais de que a participação comunitária pelo menos já saiu da porta de casa. Ainda falta a cerca.

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Interatividade

O que impede que o morador de Curitiba tenha maior participação na vida comunitária?

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