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Ao lado da Igreja da Ordem, no Centro histórico de Curitiba, a Casa Romário Martins tem lugar: ao que consta, espaço foi construído no século 18 | André Rodrigues/ Gazeta do Povo
Ao lado da Igreja da Ordem, no Centro histórico de Curitiba, a Casa Romário Martins tem lugar: ao que consta, espaço foi construído no século 18| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

Um paranista

Romário Martins e sua turma buscaram dar identidade ao estado

Romário Martins foi um dos historiadores que se preocupou em organizar de forma cronológica a história do Paraná. Ele também integrou o Movimento Paranista, que procurou criar uma identidade para o estado.

Capitaneado por Martins e uma trupe que contava, entre outros, com João Turin, Zaco Paraná, Benedito Nicolau dos Santos, Laertes Munhoz, Emiliano Perneta e Nilo Cairo, o movimento surgiu na esteira do sucesso econômico da erva-mate, afim de exaltar os feitos políticos e culturais do estado. É dessa época, por exemplo, a criação do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, da Academia Paranaense de Letras, do Museu Paranaense e do Parque Nacional do Iguaçu. O movimento foi interrompido pelo "modernismo" do interventor Manoel Ribas.

Martins nasceu em 8 de dezembro de 1874. Desde cedo trabalhou em jornais, primeiro como auxiliar de tipografia e depois como redator. Na juventude, demonstrou gosto pela história, e foi encarregado pelo governo paranaense de pesquisar arquivos sobre a história do Paraná em São Paulo. Em 1902, foi nomeado diretor do Museu Paranaense, cargo que ocupou durante 25 anos.

Foi também diretor do Departamento de Agricultura do estado e deputado estadual em 1904. Para esse cargo foi reeleito mais sete vezes. Foram deles os projetos que criaram a bandeira e o brasão do Paraná e o brasão e as armas de Curitiba. Entre diversos livros, ele publicou História do Paraná. Martins faleceu em Curitiba no ano de 1948.

Serviço

Para visitar

Casa Romário MartinsEndereço: Largo Coronel Enéas, 30, Largo da Ordem, São FranciscoContato: (41) 3321-325 e memoriais@fcc.curitiba.pr.gov.br.Horário de funcionamento: 9 h às 12 horas e 13 h às 18 horas (3ª a 6ª feira); e 9 h às 14 horas (sábados, domingos e feriados).

  • De dentro para fora, vista da porta principal da Casa Romário Martins

Localizada no Largo da Ordem, a casa de número 30 é o último exemplar da arquitetura colonial portuguesa em Curitiba. A data precisa da construção da residência é incerta. Sabe-se, por suas características, que ela é do início do século 18. Que serviu como espaço residencial e comercial por aproximadamente dois séculos. Há 40 anos, o local transformou-se em um espaço para guardar o acervo histórico da capital.

A casa foi tombada pelo estado em 1971 e incorporada ao patrimônio histórico do município no ano seguinte. Em 1973, foi inaugurada como Casa Romário Martins, em homenagem ao historiador paranaense nascido em Curitiba.

Segundo Marcelo Sutil, coordenador de pesquisa histórica da Casa da Memória, a dificuldade em precisar a data da edificação deve-se à falta de documentos. "A gente sabe que é do início do século 18 pelas características arquitetônicas, mas na época não havia obrigação de entregar a planta e o alvará de construção à prefeitura", explica.

A historiadora Maria Luiza Baracho, da Casa da Memória, que pesquisou a história da casa, relata que um dos primeiros proprietários teria sido Lourenço de Sá Ribas, que adquiriu o imóvel da Irmandade do Santíssimo Sacramento. No final do século 19, conforme fotografia de época, funcionou no imóvel o Armazém do Paiva. Dessa forma, o que seria provavelmente uma residência foi adaptado para um novo uso.

A primeira escritura do imó­vel é de 1902. O proprietário era Guilherme Etzel, que instalou um armazém de se­cos e molhados. A partir de 1930, funcionou como Ar­ma­zém Roque. A casa também abrigou um açougue e, no anexo construído ao lado, uma peixaria.

As atividades comerciais continuaram até 1970, quando foi declarado de utilidade pública e no mesmo ano o imóvel foi desapropriado pela prefeitura.

Restauro

Após ser tombada, o arquiteto Cyro Corrêa Lyra elaborou um projeto de restauro da casa, que teve as obras iniciadas e concluídas em 1973. De acordo com Maria Luiza, constatou-se que o interior do prédio e sua fachada haviam sido descaracterizados com o passar dos anos. O telhado estava escondido, as janelas da fachada principal destruídas e o estilo arquitetônico encoberto por placas de propaganda. "Não se sabe como era a divisão original dos cômodos, pois a planta sofreu várias adaptações", escreve.

A restauração conseguiu recuperar o aspecto externo recompondo os beirais e devolvendo aos vãos o seu aspecto e dimensão originais. O espaço interno foi privilegiado como área destinada a exposições. Sutil explica que, por oito anos, a Romário Martins abrigou o Arquivo Histórico Municipal."Depois o arquivo foi transferido em 1981 para a recém-criada Casa da Memória. A Casa Romário Martins tornou-se um espaço de exposições relacionadas à memória histórica da cidade", explica.

Reformada, mas com a cara do século 18

Das janelas desenhadas em arco é possível ver toda a extensão do Largo da Ordem. As paredes de pedra e as portas de madeira remetem o visitante para algum lugar do passado. Apesar de ter sido reformada e restaurada algumas vezes, a estrutura da Casa Romário Martins ainda guarda lembrança física do final do século 18.

As escadarias que dão acesso ao sótão são íngremes. Dentro do sótão é necessário abaixar para não bater a cabeça no telhado. A restauração da fachada voltada para o Largo da Ordem foi baseada em fotografias antigas. O piso, por sua vez, já foi trocado algumas vezes até o espaço ser restaurado na década 70, já que estava desgastado pelas atividades comerciais desenvolvidas no local.

Na construção original, o assoalho era de tábuas largas. Originariamente, as divisórias internas eram de taipa, e o pouco que restava se encontrava em estado imprestável, o que impossibilitou serem mantidas. "Por isso, optou-se em deixar sem divisões para a realização de exposições históricas", afirma o historiador Marcelo Sutil.

As peças de madeira não substituídas foram apenas descobertas das sucessivas pinturas, criando uma textura que as diferencia das peças novas, como é o caso da escadaria que leva ao sótão.

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