
Menos de três semanas após a prefeitura ter demolido uma estrutura abandonada sob o Viaduto Capanema, em Curitiba, o local continua servindo como ponto de encontro de moradores de rua e usuários de drogas. A permanência desse público na região, assim como sob outros viadutos da área central da cidade, comprova que a destruição de estruturas abandonadas não é suficiente para aumentar a sensação de segurança. Muito menos para resolver o problema de mais de 4 mil pessoas que vivem nas ruas da capital paranaense.
Na última terça-feira, a reportagem da Gazeta do Povo conversou com usuários de drogas e moradores de rua que frequentam o Viaduto Capanema. L.S. era um deles. A moça dorme no local há três meses, desde que descobriu o início da sua quarta gestação. Depois da demolição do espaço, ela apenas mudou de lado. "Fomos para a outra ponta", resume a mulher, que alegou se sentir insegura em abrigos da Fundação de Ação Social (FAS). "Os pequenos traficantes do centro ficam lá e, quem deve, teme."
A presença, porém, não se restringe às noites. O sol das 15 horas da última terça não inibiu o jovem Douglas, como se identificou, a consumir drogas atrás de uma guarita improvisada com papelão. "Sou flanelinha no centro e aqui consigo usar [drogas] sem ninguém me incomodar", justificou o homem de 20 anos, que disse não frequentar o local para dormir, já que passa suas noites no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop).
Ainda não há uma definição sobre como o espaço desocupado sob o Viaduto Capanema será reaproveitado. Enquanto isso, um abrigo montado em caráter provisório na Praça Plínio Tourinho, ao lado do Viaduto Colorado, tornou-se permanente. Trata-se de uma casa cedida à FAS pela Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Juventude e que está recebendo estrutura para se tornar um Centro Pop. Diariamente, o local recebe em média 70 pessoas. Mas chegou a abrigar 100 durante a onda de frio que fez nevar na capital.
Crítica
Apesar de considerar importante a abertura de novas vagas de acolhimento, o sociólogo Lindomar Bonetti critica a demolição do espaço sem um projeto para ocupação do local. "É uma maneira estúpida imaginar que a destruição de uma estrutura pública resolverá a questão. O local poderia ter sido estruturado com ações educativas e recreativas, que poderiam ser revertidas para a população em geral, inclusive para moradores de rua", explica o professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).



