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Sob o Viaduto do Capanema, “mocó” veio abaixo há três semanas, mas ocupação continua | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Sob o Viaduto do Capanema, “mocó” veio abaixo há três semanas, mas ocupação continua| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Prado Velho

Aposentada é vizinha de barraco de lona com "vaso na soleira"

A aposentada Lori Isabel vive em uma casa de madeira na Rua Imaculada Conceição, no Prado Velho, e comemorou o fato de um muro levantado pela população local ter espantado moradores de rua do acesso ao córrego do Prado. A poucos metros dali, porém, o ex-marceneiro V.C., 43 anos, armou um barraco de lona com direito a porta de ferro e vaso na soleira.

"Não adianta desmontar e expulsar. Se me tirarem daqui, volto para o outro lado da rua. Que outro lugar eu poderia ir?", indaga o homem, que vive na estrutura improvisada há pouco menos de um ano e sobrevive da coleta de material reciclável.

A presença de V.C. no Prado Velho, segundo ele próprio, trouxe mais segurança à região. "Antigamente, isso aqui ficava cheio de gente usando droga. Agora, só entra quem eu autorizo", disse homem, que durante a entrevista recebia a visita do Sr. Antônio, que usava drogas nos fundos do barraco. "Mas ele é gente boa", ponderou o dono da moradia, que possui RG, CNH, Titulo de Eleitor e um Certificado de Compra e Venda de um Escort 1986. Segundo o homem, o carro está em seu nome, mas foi apreendido pela polícia.

Cobrança

Para Leonildo Monteiro, da Coordenação do Movimento Nacional de Pessoas em Situação de Rua, a estrutura abandonada sob o viaduto poderia ter sido reformada. "Mas isso os Conselhos de Segurança não cobram. Eles preferem primeiro nos expulsar dos bairros centrais."

E agora?

Após dois anos "brigando" para que a estrutura sob o Viaduto Capanema fosse demolida, Fátima Maia, presidente do Conselho Comunitário de Segurança Jardim Botânico, agora espera por mais ações da prefeitura no local. "Em Belo Horizonte e em São Paulo fizeram espaços para shows, exposições e atividades de lazer sob viadutos. Uma quadra de futebol, que serviria inclusive aos meninos da Vila Torres, seria ótima ideia." A prefeitura de Curitiba informou que suas secretarias, a Regional da Matriz e o governo do Paraná estudam formas de ocupar o local.

Convívio

Ao mesmo tempo em que comemoram a demolição da estrutura sob o Viaduto Capanema, moradores do bairro Rebouças criticam a prefeitura por ter montado um abrigo na região. "Não adianta trazer dependente químico para se abrigar perto de onde lhes oferecem droga. Desde que abriram o abrigo, aumentou muito a frequência de moradores de rua na região", criticou o autônomo A.A.A, 41 anos. Mesma opinião tem C.M, 72, que também não quis se identificar por medo de retaliação de traficantes. "Agora, os moradores de rua andam aos montes por aqui".

Menos de três semanas após a prefeitura ter demolido uma estrutura abandonada sob o Viaduto Capanema, em Curitiba, o local continua servindo como ponto de encontro de moradores de rua e usuários de drogas. A permanência desse público na região, assim como sob outros viadutos da área central da cidade, comprova que a destruição de estruturas abandonadas não é suficiente para aumentar a sensação de segurança. Muito menos para resolver o problema de mais de 4 mil pessoas que vivem nas ruas da capital paranaense.

INFOGRÁFICO: Confira a localização dos imóveis considerados "irregulares" pela prefeitura de Curitiba

Na última terça-feira, a reportagem da Gazeta do Povo conversou com usuários de drogas e moradores de rua que frequentam o Viaduto Capanema. L.S. era um deles. A moça dorme no local há três meses, desde que descobriu o início da sua quarta gestação. Depois da demolição do espaço, ela apenas mudou de lado. "Fomos para a outra ponta", resume a mulher, que alegou se sentir insegura em abrigos da Fundação de Ação Social (FAS). "Os pequenos traficantes do centro ficam lá e, quem deve, teme."

A presença, porém, não se restringe às noites. O sol das 15 horas da última terça não inibiu o jovem Douglas, como se identificou, a consumir drogas atrás de uma guarita improvisada com papelão. "Sou flanelinha no centro e aqui consigo usar [drogas] sem ninguém me incomodar", justificou o homem de 20 anos, que disse não frequentar o local para dormir, já que passa suas noites no Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop).

Ainda não há uma definição sobre como o espaço desocupado sob o Viaduto Capanema será reaproveitado. Enquanto isso, um abrigo montado em caráter provisório na Praça Plínio Tourinho, ao lado do Viaduto Colorado, tornou-se permanente. Trata-se de uma casa cedida à FAS pela Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Juventude e que está recebendo estrutura para se tornar um Centro Pop. Diariamente, o local recebe em média 70 pessoas. Mas chegou a abrigar 100 durante a onda de frio que fez nevar na capital.

Crítica

Apesar de considerar importante a abertura de novas vagas de acolhimento, o sociólogo Lindomar Bonetti critica a demolição do espaço sem um projeto para ocupação do local. "É uma maneira estúpida imaginar que a destruição de uma estrutura pública resolverá a questão. O local poderia ter sido estruturado com ações educativas e recreativas, que poderiam ser revertidas para a população em geral, inclusive para moradores de rua", explica o professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

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