
Em um primeiro momento, a impressão é de que o carro foi furtado; logo depois, a confirmação de que o veículo foi guinchado pela Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran). É desta forma que quem estaciona o carro em local proibido tem recebido a notícia na capital. Ou, quando o motorista chega durante o reboque, a compreensão do infrator pode prevalecer sobre a indignação; do contrário, o circo está armado. Nos primeiros 25 dias em que a medida passou a ser tomada, 320 automóveis e 13 caçambas foram retirados das ruas 13 ocorrências diariamente. "As restrições vão ser cada vez mais severas. Com certeza o trânsito vai melhorar como um todo. É um mal necessário, mas a população precisa saber por que está sendo feito", considera o especialista em trânsito Celso Alves Mariano, consultor do Portal do Trânsito.
Nas primeiras semanas, o trabalho da Diretran esteve focado na região central de Curitiba. "Durante a manhã e a tarde, o trabalho está bem dividido no anel central, centrado nas principais vias desta região", explica Adão José Lara Vieira, gestor da Área de Fiscalização de Trânsito da Diretran. A partir das 17 horas, a fiscalização se intensifica em trechos das ruas Brigadeiro Franco, Desembargador Motta, Coronel Dulcídio e Ângelo Sampaio, onde não se pode estacionar entre as 17 e 20 horas. Os quatro guinchos dois para automóveis, um para veículos de grande porte e outro para caçambas podem entrar em ação de duas formas: por meio de denúncias ou quando se deparam com alguma irregularidade enquanto andam pelas ruas.
No fim da tarde de terça-feira passada, o advogado Antonio Marcos foi surpreendido. Após as 17 horas, o carro dele continuava estacionado na Rua Brigadeiro Franco e foi guinchado. Três minutos depois de o veículo ser removido, ele chegou ao local. Sem perceber o adesivo amarelo da Diretran colado no chão, imediatamente ligava para a polícia. "Não tinha visto [o adesivo]. É um susto! A sensação é de que o carro foi roubado", relatou, ao saber que o carro havia sido levado pela Diretran.
Na mesma quadra da Brigadeiro, entre as avenidas Iguaçu e Getúlio Vargas, outro carro foi rebocado no dia seguinte. A bancária Andrea Rauen estava em uma clínica e perdeu a hora. Às 17h08 viu seu automóvel sendo guinchado. Por estar sem o documento do veículo, não pôde impedir o reboque. "Esqueci na bolsa do bebê. Não esperam nem dez minutos. Acho uma medida extremista", considera. "Normalmente o condutor fica chateado. Para nós é uma situação muito ruim. Não temos condição de aguardar", comenta a agente de trânsito Mara Sueli Carvalho.
O procedimento adotado pelos agentes de trânsito desde 28 de setembro segue algumas etapas nas 24 horas do dia. Antes de guinchar um veículo, o agente verifica se ele não foi roubado. Se tiver algum sinal de roubo, a responsabilidade passa para a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos. Caso contrário, é iniciada a remoção do carro. Os agentes tiram fotos de todos os detalhes do carro, inclusive de riscos na pintura ou danos já existentes. O automóvel é lacrado com adesivos numerados e levado para um pátio no bairro Uberaba. Um aviso é colado no chão comunicando o fato. Se o motorista não vê o comunicado, ao entrar em contato com a polícia para registrar a ocorrência do furto ele é informado de que o veículo foi guinchado.
Entretanto, se o motorista chega antes de o veículo estar sobre a plataforma do guincho, pode impedir que o trabalho seja concluído e ficar com o carro, desde que esteja com toda a documentação em dia e sem multas pendentes.
Circo armado
Uma equipe de 200 agentes de trânsito está sendo treinada para colocar o guincho em prática. Além de saber o procedimento, precisam estar preparados para encarar os proprietários dos veículos. "A maioria entende. Lógico, ficam nervosos, mas normalmente não temos esse problema", comenta a agente de trânsito Mara. A opinião é compartilhada por outros fiscais. No entanto, a Gazeta do Povo acompanhou uma situação não tão simples assim. No fim da tarde de quarta-feira passada, por volta das 18 horas, a Guarda Municipal precisou intervir para que um carro fosse guinchado na Rua Desembargador Motta.
O proprietário do veículo, um aposentado de 74 anos que não quis se identificar, não autorizou que seu carro fosse removido pela Diretran. Sem seguro obrigatório, IPVA e licenciamento em dia, ele pedia que fosse liberado sob a promessa de pagar os débitos no dia seguinte. Contou que havia perdido a hora enquanto foi buscar a liberação de um exame para uma filha. Os agentes tentavam explicar-lhe a lei que estava sendo cumprida. Distraídos com o que acontecia, quatro motoristas se envolveram em dois acidentes no local.
A situação piorou quando uma filha do aposentado chegou. Dedo em riste e tom de voz elevado, ela dizia aos guardas e agentes de trânsito que a situação poderia prejudicar a saúde do pai. "Eu não quero criar problema, mas a sensibilidade é importante neste momento. O código, a lei... como se estivéssemos em um país em que se cumpre a lei. Vocês estão levando a lei ao pé da letra num país onde não se faz isso", disse o aposentado. Uma remoção costuma durar 20 minutos; neste caso, o carro foi guinchado depois de quase duas horas.





