Valor arrecadado vai para a empresa
Considerando que os proprietários dos carros e caçambas retirados do pátio até quinta-feira passada tenham pago apenas uma diária, a nova medida adotada pela Diretran já levou R$ 29.253,91 ao cofre da RemovCar cerca de R$ 1,1 mil por dia. "Como está previsto no edital, todo o valor vai para a empresa. O poder público tem retorno com relação ao pagamento de licenciamentos, IPVA ou multas atrasados", explica Adão José Lara Vieira, gestor da Área de Fiscalização de Trânsito da Diretran.
Medida deve melhorar o fluxo
A remoção de veículos estacionados em local proibido com o auxílio de guincho é uma medida adotada pela Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran) e que não é considerada arbitrária nem absurda por dois especialistas consultados pela Gazeta do Povo. Para eles, trata-se de uma necessidade que deve contribuir para melhorar o fluxo e aumentar a educação no trânsito.
Em um primeiro momento, a impressão é de que o carro foi furtado; logo depois, a confirmação de que o veículo foi guinchado pela Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran). É desta forma que quem estaciona o carro em local proibido tem recebido a notícia na capital. Ou, quando o motorista chega durante o reboque, a compreensão do infrator pode prevalecer sobre a indignação; do contrário, o circo está armado. Nos primeiros 25 dias em que a medida passou a ser tomada, 320 automóveis e 13 caçambas foram retirados das ruas 13 ocorrências diariamente. "As restrições vão ser cada vez mais severas. Com certeza o trânsito vai melhorar como um todo. É um mal necessário, mas a população precisa saber por que está sendo feito", considera o especialista em trânsito Celso Alves Mariano, consultor do Portal do Trânsito.
Nas primeiras semanas, o trabalho da Diretran esteve focado na região central de Curitiba. "Durante a manhã e a tarde, o trabalho está bem dividido no anel central, centrado nas principais vias desta região", explica Adão José Lara Vieira, gestor da Área de Fiscalização de Trânsito da Diretran. A partir das 17 horas, a fiscalização se intensifica em trechos das ruas Brigadeiro Franco, Desembargador Motta, Coronel Dulcídio e Ângelo Sampaio, onde não se pode estacionar entre as 17 e 20 horas. Os quatro guinchos dois para automóveis, um para veículos de grande porte e outro para caçambas podem entrar em ação de duas formas: por meio de denúncias ou quando se deparam com alguma irregularidade enquanto andam pelas ruas.
No fim da tarde de terça-feira passada, o advogado Antonio Marcos foi surpreendido. Após as 17 horas, o carro dele continuava estacionado na Rua Brigadeiro Franco e foi guinchado. Três minutos depois de o veículo ser removido, ele chegou ao local. Sem perceber o adesivo amarelo da Diretran colado no chão, imediatamente ligava para a polícia. "Não tinha visto [o adesivo]. É um susto! A sensação é de que o carro foi roubado", relatou, ao saber que o carro havia sido levado pela Diretran.
Na mesma quadra da Brigadeiro, entre as avenidas Iguaçu e Getúlio Vargas, outro carro foi rebocado no dia seguinte. A bancária Andrea Rauen estava em uma clínica e perdeu a hora. Às 17h08 viu seu automóvel sendo guinchado. Por estar sem o documento do veículo, não pôde impedir o reboque. "Esqueci na bolsa do bebê. Não esperam nem dez minutos. Acho uma medida extremista", considera. "Normalmente o condutor fica chateado. Para nós é uma situação muito ruim. Não temos condição de aguardar", comenta a agente de trânsito Mara Sueli Carvalho.
O procedimento adotado pelos agentes de trânsito desde 28 de setembro segue algumas etapas nas 24 horas do dia. Antes de guinchar um veículo, o agente verifica se ele não foi roubado. Se tiver algum sinal de roubo, a responsabilidade passa para a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos. Caso contrário, é iniciada a remoção do carro. Os agentes tiram fotos de todos os detalhes do carro, inclusive de riscos na pintura ou danos já existentes. O automóvel é lacrado com adesivos numerados e levado para um pátio no bairro Uberaba. Um aviso é colado no chão comunicando o fato. Se o motorista não vê o comunicado, ao entrar em contato com a polícia para registrar a ocorrência do furto ele é informado de que o veículo foi guinchado.
Entretanto, se o motorista chega antes de o veículo estar sobre a plataforma do guincho, pode impedir que o trabalho seja concluído e ficar com o carro, desde que esteja com toda a documentação em dia e sem multas pendentes.
Circo armado
Uma equipe de 200 agentes de trânsito está sendo treinada para colocar o guincho em prática. Além de saber o procedimento, precisam estar preparados para encarar os proprietários dos veículos. "A maioria entende. Lógico, ficam nervosos, mas normalmente não temos esse problema", comenta a agente de trânsito Mara. A opinião é compartilhada por outros fiscais. No entanto, a Gazeta do Povo acompanhou uma situação não tão simples assim. No fim da tarde de quarta-feira passada, por volta das 18 horas, a Guarda Municipal precisou intervir para que um carro fosse guinchado na Rua Desembargador Motta.
O proprietário do veículo, um aposentado de 74 anos que não quis se identificar, não autorizou que seu carro fosse removido pela Diretran. Sem seguro obrigatório, IPVA e licenciamento em dia, ele pedia que fosse liberado sob a promessa de pagar os débitos no dia seguinte. Contou que havia perdido a hora enquanto foi buscar a liberação de um exame para uma filha. Os agentes tentavam explicar-lhe a lei que estava sendo cumprida. Distraídos com o que acontecia, quatro motoristas se envolveram em dois acidentes no local.
A situação piorou quando uma filha do aposentado chegou. Dedo em riste e tom de voz elevado, ela dizia aos guardas e agentes de trânsito que a situação poderia prejudicar a saúde do pai. "Eu não quero criar problema, mas a sensibilidade é importante neste momento. O código, a lei... como se estivéssemos em um país em que se cumpre a lei. Vocês estão levando a lei ao pé da letra num país onde não se faz isso", disse o aposentado. Uma remoção costuma durar 20 minutos; neste caso, o carro foi guinchado depois de quase duas horas.
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