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O ex-delegado do Dops Cláudio Antônio Guerra | Andressa Cardoso/A Tribuna
O ex-delegado do Dops Cláudio Antônio Guerra| Foto: Andressa Cardoso/A Tribuna

Justiça

Mortes são investigadas pelo Ministério Público

O Ministério Público Federal já investiga quatro das dez mortes citadas pelo ex-delegado Cláudio Guerra. O Grupo de Justiça de Transição, montado pelo MPF para investigar os crimes da ditadura, busca provas para solucionar as mortes do casal Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva, de João Massena Mello e de Luiz Ignácio Maranhão Filho, dirigentes do PCB.

"Trata-se de confissão que, por si só, não soluciona os casos, mas é mais um elemento de prova, de investigação", afirma a procuradora da República Eugênia Gonzaga, lembrando que alguns pontos relatados por Guerra coincidem com depoimentos de testemunhas da época. A Comissão da Verdade no Congresso Nacional deve intimar o ex-delegado do Dops para depor sobre os casos de desaparecidos e também sobre a morte do delegado Sergio Paranhos Fleury.

Ex-presa política, a jornalista Rose Nogueira, do Grupo Tortura Nunca Mais, considerou "estarrecedoras" as declarações de Cláudio Antônio Guerra no livro autobiográfico Memórias de uma guerra suja. O ex-delegado do De­­­­partamento de Ordem Po­­lítica e Social (Dops) do Espírito Santo afirmou que, sob ordens militares, incinerava corpos de militantes de esquerda em uma usina de açúcar no município de Campos dos Goytacazes (norte do Rio de Janeiro). O livro traz ainda outras revelações sobre o desaparecimento e a morte de militantes de esquerda nos anos 70 e 80 no Brasil.

"É o Auschwitz do Brasil. Os militares usaram métodos nazistas, como a tortura, e agora vemos que houve também a incineração", disse Rose, referindo-se ao campo de concentração nazista na Polônia. Para ela, as denúncias contidas no livro precisam ser investigadas com profundidade. Ex-presa da Torre das Donzelas, no Presídio Tiradentes (São Paulo), o mesmo onde ficou a presidente Dilma Rousseff por mais de três anos, Rose disse não conhecer o ex-delegado Guerra, que atuava principalmente no Espírito Santo e no Rio. "Mas sempre soubemos que, no Espírito Santo, a coisa era muito pesada", relatou.

Em depoimento aos jornalistas Marcelo Netto e Rogério Medeiros, publicado em primeira pessoa, Guerra revelou que pelo menos dez corpos de militantes executados foram atirados, em 1973, no incinerador da usina Cambahyba, de propriedade de empresário Heli Ribeiro Gomes, hoje morto. O casal Ana Rosa Kucinski e Wilson Silva; João Batista e Joaquim Pires Cerveira, que foram presos na Argentina; os militantes da Ação Popular Marxista Leninista (APML) Fernando Augusto Santa Cruz e Eduardo Collier Filho; e os líderes do PCB David Capistrano, João Massena Mello, Luiz Ignácio Maranhão Filho e José Roman.

O dono da usina foi deputado federal e ex-vice-governador do estado do Rio. Morreu em 1992. "Meu pai não queria o comunismo dentro do Brasil, mas era totalmente contrário a qualquer perseguição ou violência, era um democrata", afirmou Cecília Gomes, filha de Heli, que considera as acusações de Guerra "absurdas".

Militar assassinado

Cláudio Guerra, que hoje se prepara para virar pastor de igreja, disse ainda que o delegado Sérgio Paranhos Fleury — símbolo da linha-dura do regime — teria sido assassinado por ordem dos próprios militares, assim como o jornalista Alexandre Von Baumgarten, dono da revista O Cruzeiro, como queima de arquivo. "Fleury tinha se tornado um homem rico desviando dinheiro dos empresários que pagavam para sustentar as ações clandestinas do regime militar. Não obedecia mais a ninguém, agindo por conta própria", disse o delegado. Oficialmente, Sérgio Fleury morreu acidentalmente em Ilhabela, depois de tombar da lancha. Segundo Guerra, ele teria sido dopado e levado uma pedrada na cabeça antes de cair no mar.

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