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Modelo Mariana Bridi respirava com ajuda de aparelhos após ter infecção urinária | Divulgação/Miss Mundo Brasil
Modelo Mariana Bridi respirava com ajuda de aparelhos após ter infecção urinária| Foto: Divulgação/Miss Mundo Brasil

A infecção que acometeu a modelo Mariana Bridi, 20 anos, no Espírito Santo, é considerada grave e rara por especialistas do Instituto Latino Americano de Sepse (Ilas). Mariana teve as mãos e pés amputados após um choque séptico, causado por bactérias Pseudomonas aeruginosa, tendo como provável foco uma infecção urinária, de acordo a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa).

Mariana está internada e respira com ajuda de aparelhos no Hospital Dório Silva, em Serra (ES), desde o dia 3 janeiro. A jovem já foi duas vezes finalista do Miss Mundo Brasil.

Apesar de rara, a sepse atingiu 400 mil pacientes e provocou a morte de 230 mil pessoas em 2004, segundo estudo realizado pelo Ilas. "Isso representa uma mortalidade cerca de 12 vezes maior do que o número de mortes provocadas por infarto", disse Nelson Akamine, diretor do Ilas e integrante do comitê de sepse da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB).

Segundo Akamine, o levantamento foi feito após cruzamento de dados do DataSUS, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Fundação Getúlio Vargas.

De acordo com o diretor do Ilas, sepse é uma resposta sistêmica do organismo, desencadeada por uma infecção. "Nem todas as respostas sistêmicas do organismo são desencadeadas por infecção, mas, se ela for provocada por uma, trata-se de sepse", disse Akamine.

"Outro aspecto é que não existe uma relação de intensidade ou de gravidade de uma infecção com a resposta, que é a sepse. Não podemos dizer que se uma infecção for grave vai dar sepse e vice-versa", afirmou o diretor do Ilas.

Respostas do corpo

"A resposta sistêmica do organismo é caracterizada por uma alteração de diversos órgãos ao mesmo tempo. Se eu tiver um paciente com quadro de infecção urinária, pulmonar, neurológica, só haverá uma manifestação em cada um desses sitemas, de maneira pontual. Quando ocorre a sepse, a resposta é do corpo todo à infecção. Essa resposta não é de defesa e é tecnicamente prejudicial ao paciente".

A caracterização genética de predisposição à sepse ainda está em estudo. "Não temos pesquisas prontas ainda. Há estudos grandes, em vários centros médicos, que ainda não definiram esse panorama", disse Akamine.

O médico informou que a sepse não é uma inflamação exclusiva de pacientes que estejam internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). "Na UTI tem muita gente com sepse porque, na verdade, quem tem sepse vai para o hospital. O paciente não é acometido por sepse, como por uma infecção hospitalar. Isso pode acontecer dentro ou fora do hospital", disse o diretor do Ilas.

Diagnóstico

"A caraterização da sepse é feita por infecção, comprovada ou não. Além disso, tem de haver a resposta sistêmica, que pode ser a febre, taquicardia ou a taquipnéia. A temperatura do corpo tem de estar acima de 38 graus, a frequência cardíaca, acima de 90 batimentos por minuto e apresentar mais de 14 movimentos respiratórios por minuto", explicou Nelson Akamine.

Segundo ele, não há ordem de importância dos sintomas até se diagnosticar a sepse. "Há outros detalhes, muito técnicos, que nos permitem identificar o quadro."

Níveis de gravidade

O primeiro estágio de gravidade da inflamação (sepse) é quando os sintomas acima são identificados. "O segundo estágio, que é a sepse grave, ocorre quando há o comprometimento de um órgão. É quando o paciente tem febre, taquicardia e taquipnéia e a falência de algum outro órgão", disse Akamine.

O último nível de gravidade da sepse é o choque séptico. "É quando o paciente, já diagnosticado com sepse grave, obrigatoriamente tem pressão baixa. É quando o paciente não responde ao tratamento para elevar a pressão", afirmou o diretor do Ilas.

Faixa etária

Segundo o Ilas, a sepse pode ocorrer com mais frequência em crianças com imunidade indefinida, que vai do recém-nascido até 2 anos de idade. Outra faixa etária é de adultos com mais de 65 anos. "São as pessoas que têm mais chances de ter infecção."

As exceções são pessoas consideradas como adulto-jovem e de meia idade. "Os casos de sepse com mais representatividade nesta faixa etária ocorrem em pessoas que sofreram alguma alteração de imunidade, como um traumatismo, por exemplo", disse Akamine.

Ele afirmou ainda que, quando forem concluídos os estudos genéticos de predisposição à sepse, esses fatores etários deixarão de ser considerados como são na atualidade. "Essa é a forma que temos, nos dias de hoje, de identificar padrões de predisposição à sepse."

Mortalidade

O índice de mortalidade é de 20% dos pacientes, segundo o médico. Ele afirmou ainda que a sepse grave registrou índice de 50% de mortalidade. "Já o choque séptico apresenta índice de mortalidade, em média, de 60%, podendo atingir o pico de 80% de mortes."

Amputações

Nelson Akamine disse que as amputações ocorrem de acordo com cada tipo de quadro infeccioso. A sepse não é predisposição para amputação. "Pode acontecer, mas não é regra."

Segundo ele, três fatores levam à amputação. "O primeiro é a infecção, como a meningite meningocócica. Outro fator é a sepse grave e o choque séptico. Nestes dois últimos casos, há também a dificuldade de circulação sanguínea nas extremidades do corpo, o que pode levar à retirada de um órgão."

O último fator é a preservação da vida pela amputação. "Uma coisa é não chegar sangue nos pés e nas mãos, por exemplo. Quando o sangue deixa de ir para o cérebro ou para o pulmão, considerados órgãos vitais, desviamos a circulação para eles e assim garantimos a vida do paciente por mais tempo", disse Akamine.

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