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Trocar o "luto pela luta". Em nome dessa causa, uma dezena de curitibanos se reuniu na tarde de ontem, aproveitando o grande fluxo de pessoas no Parque Barigüi, para protestar contra a impunidade e prestar solidariedade aos pais, parentes e amigos das vítimas da violência urbana. Na ocasião, os manifestantes distribuíram à população uma carta assinada por 17 organizações não-governamentais (ONGs) de todo o país que compõem a Rede Nacional "Luta sim, Luto não". O ato aconteceu ao mesmo tempo em várias capitais.

Em Curitiba, a ONG Basta violência, Queremos mais Segurança no Paraná e o Movimento Giorgio Renan por Justiça foram os responsáveis por organizar o ato público. Os alvos do protesto foram o abrandamento dos crimes hediondos, o fim do exame criminológico, o dia dedicado aos detentos e a expectativa de que a prisão preventiva acabe. Faixas com palavras de ordem e frases de impacto completaram o cenário, a exemplo de "Sabe quantos seqüestradores, estupradores, traficantes e assassinos serão saltos este ano?" ou "Os presídios estão em festa, nós de luto".

"Temos que nos unir para sermos ouvidos", afirma a mãe de Giorgio Renan, Elisabete Metynoski, 47 anos, representante de vendas. Giorgio Renan Ernlund Metynoski morreu há quatro anos, quando saiu de casa para brincar com um colega da escola. Na época, Metynoski tinha 10 anos e foi assassinado por um adolescente de 14 anos. De acordo com Elisabete, Metynoski foi agredido fisicamente e vítima de disparo de arma de fogo. "O adolescente que matou meu filho era um sociopata acompanhado pelo Conselho Tutelar. Já havia causado sérios problemas na escola, mas nós não tínhamos idéia disso", conta. "Além de ficar três dias preso, não aconteceu nada com o garoto." Elisabete se diz cansada de lutar por justiça e afirma que sua militância nasceu para honrar a memória do filho e evitar que outras pessoas passem pela mesma situação.

"Temos que resgatar a nossa liberdade", afirma o vereador e fundador da ONG Basta Violência, Queremos mais Segurança no Paraná, Tico Kuzma. Há cerca de quatro meses, Kuzma teve o pai assassinado em um assalto. Segundo ele, as sociedade perde a cada dia sua liberdade à medida que cresce a impunidade. "Nós temos que voltar a acreditar nas instituições, mas para isso elas têm que nos passar segurança", diz.

Além das faixas e da carta distribuída, os manifestantes aproveitaram para tentar, por meio de conversa e troca de experiência, conscientizar a população. "Eu era uma alienada. Nós só pensamos neste tipo de coisa quando acontece com a gente", afirma. "Toda vez que alguém conta a sua história, a revive. Mas eu não posso deixar de contar, senão outra criança pode morrer e eu não quero isso".

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