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Solange Fernandes, doutora e pesquisadora da Pontifícia Uni­versidade Católica do Pa­­raná, está à frente de um mapeamento que vai quantificar a população de rua de Curitiba e apurar suas características e necessidades. A pesquisa teve início neste mês e envolve 25 acadêmicos de Serviço Social da instituição. Confira trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo.

Qual o propósito da pesquisa?

Esperamos alcançar quase a totalidade da população que vive em situação de rua em Curitiba, aproximadamente 2 mil pessoas. Nosso objetivo é o levantamento de dados qualitativos que permitam indicar ao poder público a necessidade de construção de políticas sociais de maior alcance e efetividade. A pesquisa poderá indicar quais as reais necessidades e anseios da população que vive em situação de rua.

Quais os principais anseios dessas pessoas?

O que move esses indivíduos é o que move todo ser humano: a manutenção da existência e o atendimento das necessidades primárias, como proteção, abrigo, alimentação, vestuário. É importante compreender que a situação de rua promove um sentimento de "não pertencimento". Ou seja, o morador não pertence a uma família, não pertence a um emprego formal e não pertence a um território. Creio que a principal necessidade é ser aceito, primeiro como morador da cidade, e depois como cidadão de direitos e ser humano.

O morador de rua de Curitiba tem algum perfil específico?

É difícil afirmar com precisão, pois esse perfil pode se alterar. Mas os dados existentes revelam que essa população é composta na maioria por homens adultos, com escolaridade até a quarta série do ensino fundamental. Existe sim uma parcela dessa população nascida em Curitiba, mas parte desse percentual é composto por andarilhos, que têm como característica a circulação por diversas cidades.

Qual a maneira adequada de atender essa população?

As pessoas, seja por convicção religiosa, por princípios ou valores morais, se sentem compelidas a ajudar. Não vejo problema algum nisso, pois revela que ainda não perdemos nossa solidariedade por aquele que sofre. Por outro lado, aqueles que o fazem devem ter a clareza que essa atitude não resolve o problema. Afinal, não se trata somente da entrega simples do alimento ou de um agasalho. Essa população tem necessidades que vão muito além disso. Somente a construção de uma política pública de atenção a esse segmento populacional, com uma rede ampla de atendimento, poderá interromper o processo crescente de indivíduos que buscam nas ruas alternativas de vida e de sobrevivência.

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