O período de consulta pública à minuta do edital do metrô de Curitiba terminou na semana retrasada com 65 contribuições ao texto, que, segundo a prefeitura, não irão alterar itens como o traçado da linha e sim apenas aperfeiçoar o edital final. No entanto, entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR) e Dieese apontaram diversas falhas no projeto do novo modal.
Segundo esses órgãos, a minuta do edital não diz como será a integração entre ônibus e metrô, não define quem fiscalizará os serviços de engenharia e não exige que a concessionária repasse informações sobre a operação apesar de prever uma contraprestação de R$ 30 milhões anuais de acordo com o cumprimento de metas operacionais. Outro fato criticado é a ausência da metodologia que definiu a tarifa remuneração em R$ 2,45 (as empresas interessadas na licitação terão de apresentar um valor menor ou igual a esse).
Ao todo, foram destacados sete pontos que poderiam ser alterados ou incluídos no edital. O coordenador Nacional da Câmara de Engenharia Civil, Luiz Capraro, diz ter sentido falta, por exemplo, de um item que obrigue o consórcio a repassar informações técnico-operacionais como tempo de espera, lotação e conforto térmico em estações e trens. "Isso nos preocupa porque a ideia do metrô não é simplesmente receber os usuários dos ônibus, mas com sua qualidade, captar novos usuários desafogando o trânsito", diz.
Demanda
A projeção da demanda foi um dos itens comuns às manifestações dos três órgãos. O total de passageiros esperados no metrô foi calculado com base na utilização atual dos ônibus do eixo Norte-Sul e numa projeção futura: são estimados 248 mil usuários por mês no novo modal em 2018, volume que ultrapassaria os 600 mil a partir de 2049. A minuta, porém, não se baseia em uma pesquisa de origem e destino levantamento comum às grandes cidades mundiais e que deverá ser licitado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippuc) neste ano.
O Dieese apontou ainda para um possível equívoco na definição das revisões de remuneração. A minuta do edital do metrô prevê revisões a favor da concessionária no caso da demanda real ficar 15% abaixo da projeção contratual. Já a revisão a favor do poder público ocorreria apenas quando a demanda for superior a 40% do estimado.
A indefinição sobre a integração entre o metrô e o ônibus também foi criticada. A minuta prevê essa integração, mas não diz como ela ocorrerá. "A integração será por hora, por dia ou irá variar de acordo com o trajeto? Tem de definir isso agora e não depois", argumenta Capraro.
Especialista elogia modelo de PPP
Para o advogado Rodrigo Sarmenta Barata, especialista em Infraestrutura e Direito Público, o projeto de Parceria Público Privada (PPP) previsto na minuta do edital do metrô curitibano segue o que o governo de São Paulo lançou para linha 6-Laranja do metrô e é um avanço na contratação de obras públicas.
"Nesse formato, o valor da obra não varia tanto como a gente costuma ver em outras obras públicas. Isso porque o poder público pode fazer o aporte de recursos antes da execução da obra, de modo que a concessionária não precise captar empréstimos para tocar o empreendimento", explica Barata.
Segundo o especialista, as construtoras responsáveis pela linha 4-Amarela do metrô de São Paulo, por exemplo, receberam pela obra apenas após a entrega do serviço. Questionado se essa não seria uma forma de garantir a qualidade na prestação do serviço, Barata argumentou que isso já estaria garantido quando a licitação é realizada em conjunto. "A concessionária precisa entregar algo de qualidade porque ela é quem irá operar depois", justificou.
No entanto, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Paraná (CAU-PR), Jeferson Dantas Navolar, não vê na PPP a melhor forma de garantir a qualidade da obra do metrô. "Nesse formato [PPP] não há a previsão de elaboração dos projetos com antecedência, entregando essas definições ao concessionário. Isso pode ter um peso maior em razão da economicidade, mas ocorre em detrimento do usuário", argumenta.



