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Edi Bündchen Silva, 79 anos: problema crônico nas costas é limitante na rotina diária | Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo
Edi Bündchen Silva, 79 anos: problema crônico nas costas é limitante na rotina diária| Foto: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo

A expressão melhor idade, usada freqüentemente para nominar a fase da vida iniciada aos 60 anos, soa quase ofensiva para os atores dessa faixa etária, os idosos. A primeira resposta está na ponta da língua: "melhor idade para quem?". É certo que o aumento da população mais velha exige políticas públicas adequadas para o atendimento da terceira idade, e o mercado, de olho neste público, criou nomes para tornar este período mais palatável.

"A expressão cria uma falsa expectativa e generaliza algo que não é bom para todos. Aliás, o conceito é equivocado para qualquer fase da vida: na infância, na juventude, na idade madura, sempre há problemas", explica o psicoterapeuta Sérgio Luís Blay, professor do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo.

Ainda que a tecnologia e o avanço da medicina permitam melhor controle de doenças degenerativas e típicas da idade avançada, envelhecer é, quase sempre, um problema. Ou vários. O pacote do envelhecimento é carregado de perdas dos mais diversos níveis: afetivas, de saúde, de convívio, de familiares. "Com o agravante da proximidade da morte", completa a psicóloga Sandra Moreira Oliveira, professora do Núcleo de Atendimento à Pessoa Idosa (Napi) da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). O segredo para envelhecer bem, na medida do que foi possível prevenir durante a juventude, é a capacidade de adaptação. "É preciso contornar as circunstâncias da vida. Se o sujeito investe no auto-conhecimento e consegue trabalhar a própria felicidade, supera as dificuldades. Puxa para si essa responsabilidade e não a coloca nos ombros dos outros, seja filho ou parente", diz Sandra.

E não é preciso escalar montanhas para mostrar independência e autonomia. Toda pequena ação no dia-a-dia pode ser traduzida em conquista de uma vida mais agradável e prazerosa na velhice. "Dividir bons momentos com amigos, freqüentar um curso, são alguns exemplos", diz. Não é preciso também ganhar rugas e cabelos brancos para ter postura e atitude. Hábitos saudáveis – boa alimentação, prática de exercícios regulares, convivência social e distância de vícios como fumo e álcool – garantem boa parte da saúde necessária para encarar a terceira idade.

O monitoramento preventivo das doenças também ajuda, com exames periódicos e tratamentos adequados. Essa condição saudável vai se refletir adiante, com mais qualidade de vida. "O que se vê hoje – idosos com novos hábitos, mais dispostos e saudáveis –, já é uma conseqüência da mudança cultural em relação à saúde, massificada há anos na mídia", explica Sérgio Blay. Vale o mesmo para a saúde mental. Com exceção do mal de Alzheimer, que tem relação direta com o avanço da idade, até mesmo as doenças mentais não são exclusivas da terceira idade. Crises de ansiedade, quadros de depressão e distúrbios alimentares e de comportamento estão presentes em todas as faixas etárias. O indivíduo também tem de lidar com angústias próprias, relativas ao envelhecimento. Mesmo quando não entra no frenesi de retardar o efeito dos anos, ainda sofre para admitir que o tempo passou, não se reconhecendo velho. "Muitos resistem a participar de atividades relativas à terceira idade, e rejeitam o rótulo", explica Siderly Almeida, coordenadora do Napi-PUCPR.

As dores crônicas nas costas de Edi Bündchen Silva, de 79 anos, são o seu maior incômodo. "Se não fosse minha coluna, eu nem sentiria o tempo passar. Desse jeito, não consigo nem segurar a minha bisneta de um ano e meio no colo", conta. Os problemas começaram na juventude, mas aumentaram há 16 anos. "Antes eu caminhava, fazia as tarefas domésticas e viajava mais." Aos poucos, com medicamentos e estímulo da família, Edi está se adaptando às limitações. "Tenho um carrinho-andador que me ajuda a caminhar. Vou sozinha para a fisioterapia", orgulha-se.

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