• Carregando...
Todos os alunos do Centro Educacional João Paulo II, em Piraquara, têm aulas de dança, caratê, Artes e Literatura | Priscila Forone/ Gazeta do Povo
Todos os alunos do Centro Educacional João Paulo II, em Piraquara, têm aulas de dança, caratê, Artes e Literatura| Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo

Exemplo

Acompanhe cinco ações que fazem a diferença no Centro Educacional João Paulo II, em Piraquara:

Metas

O centro tem como meta aumentar a nota dos alunos na Prova Brasil, do Ministério da Educação. Atualmente, o município está no nível 3 de 11 em Português e no nível 3 de 13 em Matemática. A meta é alcançar o nível 6 até o quarto ano.

Participação

A família, na hora de matricular o aluno, se compromete a participar ativamente da vida escolar do filho.

Formação

Todos os 13 docentes do centro têm no mínimo pós-graduação. Na rede de ensino de Piraquara, apenas 32,5% dos professores têm formação universitária.

Horário integral

Os alunos do centro, tanto na educação infantil quanto os que estão no ensino fundamental, estudam oito horas por dia, contra quatro horas, em média, em todo o município.

Diferencial

O centro investe em atividades ex­­tra­­curriculares que tornam a escola atrativa ao aluno, como oficinas de arte, música, literatura e esportes.

Fonte: Prova Brasil 2005

Serviço:

Para conhecer e contribuir com o projeto do Centro Educacional João Paulo II, acesse o site www.joaopaulosegundo.org.br ou ligue para (41) 3399-5409.

Aceitação

Projeto gerava dúvida na vizinhança

Quando ouviu que uma escola de primeiro mundo e gratuita para as crianças do bairro seria erguida perto de sua casa, a dona de casa Ivone Zambão, 67 anos, não "botou muita fé", como ela brinca. "Se nem a prefeitura, com dinheiro público, não conseguia manter uma escola desse tipo, uma pessoa conseguiria, apenas com dinheiro de doação?", pensou ela na época.

Pouco tempo depois, dois netos e três bisnetos de Ivone estavam na escola, no contraturno escolar. "Até hoje eu não acredito", diz ela, voluntária na comunidade há mais de 40 anos. O resultado começou a aparecer, garante ela, que passou a cobrar mais dos professores dos netos e bisnetos que estudam na escola rural Julia Wanderley, atendida pelo centro.

"Eu vi que isso não é um sonho. Se o professor Belmiro consegue, a prefeitura também pode conseguir", diz. A nora de Ivone, Rosenir, conta que o ensino na escola regular ficou "mais puxado" com a inauguração do centro. "Os alunos contam o que aprendem no centro e os professores [da escola rural] não querem ficar para trás. Acho que estão cobrando mais."

Contraturno

Com as aulas de contraturno, ambas puderam respirar aliviadas, pois a região tem se tornado cada vez mais perigosa com a chegada do tráfico de drogas. As crianças não ficam mais na rua ou na frente da tevê e Ivone conta que a escola fez diferença na vida dos bisnetos Igor, Gustavo e Natália, abandonados pela mãe. "Vi que eles estão mais felizes com o carinho das professoras. Eles se sentem amados com a oportunidade que receberam."

O medo das duas é de que a escola não consiga recursos para se manter no próximo ano. "Oro a Deus para que as pessoas ajudem a escola. Eu, logo que tiver um dinheiro, quero contribuir", diz Ivone, que, por enquanto, paga a oportunidade dada à família com a gratidão e com verduras plantadas na horta de casa doadas à escola toda semana.

  • Ivone Zambão com o neto Murilo e os bisnetos Igor e Gustavo, todos entre 7 e 9 anos
  • O centro tem hoje 60 crianças matriculadas no ensino infantil

Aos peritos em Educação adeptos da ideia de que resultados na área só podem ser percebidos após anos ou décadas, o Centro Educacional João Paulo II, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, vem demonstrando o contrário. Construída e mantida apenas com doações, a escola de "primeiro mundo", como é chamada por pais e colaboradores, tem colhido frutos um ano e meio após a inauguração.

O resultado mais visível, de acordo com um dos idealizadores da iniciativa, o professor universitário e ex-secretário estadual do Planejamento e da Educação Belmiro Valverde, é a participação dos pais dos 160 alunos atendidos, uma exigência para que possam matricular os filhos na escola, que fica no bairro La­­ranjeiras, às margens da Rodovia Leopoldo Jacomel.

A ideia de exigir a participação dos pais na vida escolar dos filhos, fórmula chancelada por educadores, ficou clara durante os anos em que Valverde morou no distrito de Santa Mônica, na Califórnia (EUA), no fim da década de 1970. Ao matricular as filhas numa escola do bairro onde morava, o professor se viu intimado a comparecer pelo menos uma vez ao mês, fosse para ajudar a catar piolhos nas crianças, dar palpite sobre a metodologia de ensino ou ajudar nas festas de fim de ano.

Ao voltar para o Brasil, desejou colocar em prática aqui o que viu por lá. "A arte de construir uma escola de qualidade não é nenhuma ciência espacial. O problema é que a educação fica na mão de poucos e, quando os pais e a comunidade querem participar, são vistos como intrometidos." Uma conversa com os pais confirma que esse é o caminho. "Sempre que eles chamam, vamos porque queremos que a escola continue por aqui", diz a dona de casa Jaqueline Aime, mãe de Maria Eduarda, de 5 anos.

Rigor e muito estudo

As outras apostas da escola são a disciplina e aulas em tempo integral, novidade na vida da comunidade, acostumada a manter os filhos apenas quatro horas por dia na escola. No centro, o horário de entrada é respeitado religiosamente e quem chega atrasado tem de dar meia volta para casa. Uniforme também é obrigatório, assim como a lavagem das mãos antes das refeições, um hábito que os alunos não tinham.

O maior tempo passado em sala de aula não tem sido motivo de queixas entre os alunos. A escola atende atualmente 60 crianças na educação infantil, em regime integral, e 100 alunos da Escola Rural Julia Wanderley, no primeiro ciclo do ensino fundamental, durante o contraturno. Todas as turmas possuem aulas de dança, caratê, Artes e Literatura e os alunos mais velhos recebem aulas de reforço em Matemática e Por­tuguês. Todos os 13 professores possuem pós-graduação.

"Até hoje não acredito nessa oportunidade. Nunca teria condições de pagar uma escola com essa qualidade. É coisa para rico", diz a dona de casa Ellen da Silva, mãe de Igor, de 6 anos. Ela acredita que a oportunidade pode ajudar a família – que sobrevive apenas com a renda do marido, que é pedreiro – a ir mais longe. "Na minha época, a escola não tinha nenhum atrativo e eu perdi o interesse. Já ele [Igor] está entusiasmado. Acho que esse interesse vai fazer ele continuar os estudos e ser alguém na vida."

Falta diálogo entre instituições de ensino

Diminuir a enorme distância entre o Centro Educacional João Paulo II e a Escola Rural Julia Wanderley (cujos alunos são atendidos no contraturno pelo centro) é o maior desafio das duas instituições. Atual­mente, ambas as direções afirmam que o diálogo entre as escolas é praticamente inexistente.

A diferença de recursos é gritante. No centro são investidos R$ 312 por aluno a cada mês. Na escola rural, o investimento mensal por estudante fica em torno de R$ 3,40, conforme análise do orçamento municipal. A escola pública recebe R$ 430 por mês para gastar com cerca de 120 alunos, além de R$ 150 extras por ser uma escola rural. No centro, o orçamento mensal é de R$ 50 mil.

A dificuldade da escola rural é tão grande que, há alguns meses, uma aluna cadeirante não pôde se matricular no espaço por falta de acessibilidade. Com isso, também perdeu a chance de estudar no centro, que é adaptado.

Realidade

Para a diretora da escola, Ro­­sân­gela da Luz, as dificuldades financeiras não atrapalham no aprendizado, pois as crianças e os professores conhecem a realidade e conseguem contorná-la. "Temos muito amor pelo que fazemos, o que ajuda a superar a falta de verbas." Para ela, o grande obstáculo é a falta de diálogo.

A diretora afirma, no entanto, que a pequena parceria está rendendo frutos, pois os alunos que entram no 1.º ano possuem maior coordenação motora e maior interesse em relação aos maiores, que não passaram pela educação infantil no centro.

O centro afirma que, em breve, uma nova pedagoga do espaço deve assumir o contato com a escola. A ideia é propor reuniões formais mensais pois, atualmente, o contato ocorre de maneira informal entre professores e funcionários.

Interatividade

O que você acha desta iniciativa? Que lições ela dá a gestores da rede pública de ensino?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]