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A Ilha do Mel tem o acesso mais controlado do litoral do Paraná. Nesse pedaço da baía de Paranaguá, onde não podem entrar mais de 5 mil turistas por vez e 95% da superfície é mata intocável, os encantos do lugar deram origem a histórias fantásticas. Segundo a fábula caiçara, em noite de luar lindas mulheres seduziam visitantes que andavam distraídos pela praia e os arrastavam para a Gruta das Encantadas, fazendo-os desaparecer. A realidade contradiz a lenda não na veracidade dos fatos, mas no papel dos personagens.

A lenda se converte em realidade e faz de meninas sonhadoras as presas de turistas que buscam aventuras no paraíso ecológico mais bem guardado do litoral Sul. "São meninas ingênuas, de famílias simples, sem perspectiva de futuro, e se deixam seduzir pelas promessas de quem diz que vai tirá-las da ilha", diz a pedagoga Christiani Vidal da Silva, do projeto Prioridade Ab­­soluta, cujo foco é o combate ao abuso e à exploração sexual infanto-juvenil. Os casos, confirmados ou suspeitos, são mantidos em sigilo para não expor as vítimas numa localidade onde todos se conhecem. Apenas 1.500 pessoas moram na Ilha do Mel.

Essas ocorrências, embora ocultas no âmbito familiar antes mesmo de um flagrante do Conselho Tutelar, acabaram levando para a ilha o projeto Prioridade Absoluta. "Na Ilha do Mel porque lá tem um grande índice de prostituição e abuso. Fazemos esse trabalho na época da Operação Verão porque recebemos pessoas de várias partes do Brasil, devido ao porto e ao turismo, e muitas pessoas vêm pa­­ra prostituir nossas jovens", explica a coordenadora do projeto, Gisele Antunes Guimarães. A equipe orienta comerciantes e moradores do lugar sobre a exploração sexual.

Uma equipe faz o trabalho de prevenção com jovens, adultos, professores, pais, igrejas, associações de bairro. "Um trabalho em rede, porque isoladamente não se consegue nada", diz Gisele. O projeto faz parte do Programa Univer­­sidade Sem Fronteiras, da Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), com apoio da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (Fa­­fipar), do Conselho Tutelar, Con­­selho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Municipal de Assistência Social, Juizado da Infância e da Juventude e três secretarias municipais de Pa­­ranaguá.

O Centro de Referência Espe­­cializada de Assistência Social (Creas) tem atendido, em média, 45 casos por ano de exploração sexual de crianças e adolescentes em Paranaguá. O projeto já havia passado pela Ilha dos Valadares, onde há uma concentração desse problema. Mas a exploração, salienta Gisele, se estende por todo o litoral do estado. A rede de proteção à infância detecta os casos, faz um trabalho preventivo, encaminha as vítimas para os órgãos públicos, e quando elas mais precisam não podem contar com o apoio do Estado. Não há em todo o litoral paranaense um abrigo sequer, uma clínica de recuperação, uma casa de passagem.

O próprio projeto Prioridade Absoluta está praticamente à deriva. Iniciado em 2007, ele contava com recursos da Seti para a alimentação, o combustível e os deslocamento das equipes. Os repasses cessaram no final do ano de 2010. Agora, o projeto segue a meia força graças ao apoio da Fafipar. "Es­­peramos que o atual governo volte a dar apoio", diz Gisele. "Nós formamos uma equipe muito bem relacionada para ir de encontro a esses problemas, que são muito graves, muito sérios, e são uma ferida da nossa região".

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