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A homilia do papa Francisco na Basílica de Aparecida foi escrita para ser guardada na memória, como uma quadrinha da infância. É breve e bela em seus três pedidos, dirigidos em especial aos jovens: que conservem a esperança; que se deixem surpreender por Deus; que vivam em alegria.

O que disse a seguir serve como um mapa para que essas intenções não fiquem ao sabor do vento. Deu um "alto lá" às seduções do prazer e do poder. Sugeriu que os fiéis sejam positivos, vendo o que há de bom na realidade. Encorajou o protagonismo e a generosidade. Em miúdos, fez o que qualquer pastor faria: indicou o norte a seguir.

Para o padre João Batista Chemin, 50 anos, reitor do Seminário Maior de Filosofia da Arquidiocese de Curitiba, contudo, o sermão foi mais do que uma prova de que o papa sabe conversar com todas as gentes. "Foi um discurso bastante pessoal. Francisco falou de si e do que está vivendo", comentou o religioso – que é também psicólogo e pesquisador da área de educação.

Chemin lembra que a ida a Aparecida foi incluída na visita ao Brasil a pedido de Francisco. Ele esteve ali seis anos antes, durante a 5.ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe. E quis voltar. Talvez por ser o maior centro de peregrinação das Américas, ao lado do Santuário de Guadalupe, no México. Talvez pela simbologia da Virgem de Aparecida, a imagem resgatada das águas, "uma surpresa de Deus". Acaso?

Não haveria melhor lugar para o santo padre dar seu recado à própria Igreja – uma instituição enredada em problemas internos, mas que vai seguir seu rumo se souber se surpreender de novo, se não desanimar, se recobrar a alegria – uma das marcas mais fortes da piedade cristã. Foi como se o papa dirigisse aos jovens o pedido que gostaria de fazer aos que insistem em aprisionar o catolicismo a seus próprios dilemas. Elas por elas.

Mensagem dada, repetiu em sua primeira missa solene no Brasil o ritual que já se tornou uma marca de pontificado. Mostrou o tempo todo que está próximo, perto, ao lado, como queiram. Literalmente – ao cumprimentar "Deus e todo mundo" depois da Eucaristia, agiu como se estivesse no final da missa das 11, num domingo qualquer na Catedral de Buenos Aires. E de gesto em gesto, como diz o padre Chemin, vai acendendo a chama entre os católicos.

Quem pensou em aggiornamento, acertou. Verdadeiro "clássico", imbuído do espírito do Vaticano II, Francisco se aproxima dos homens e mulheres de boa vontade, sem lhes apontar o dedo. Lembra ao povo que deve ir atrás do Reino de Deus, às ruas se preciso. "Para mim, é como se ele dissesse o tempo todo que existem duas liturgias, a da cerimônia e a da vida. Que a santidade não é um feito extraordinário, mas viver de forma extraordinária as pequenas coisas que fazemos".

Em tempo. Para o sacerdote, é temerário responder se Francisco tende a ser brando, um papa tropical. "Penso que tende a ser ‘exigente amoroso’. Será firme em muitos pontos". Um aperitivo foi dado na visita ao Hospital São Francisco de Assis, no Rio de Janeiro, ontem à tarde. Jorge Bergoglio disse não à legalização das drogas. "Ele sabe o que se passa no Brasil. Fico pensando no que teria dito na conversa privada com a presidente Dilma", provoca Chemin.

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